A Manipulação da Fé e o Poder das Aparências
Em tempos de eleições, onde candidatos surgem aos montes prometendo mundos e fundos, uma cena se repete, ano após ano, quase como um ritual silencioso: o povo evangélico sendo ludibriado por discursos inflamados. Não são raros os momentos em que alguém, em nome de Deus, da família, da tradição, sobe em palanques, levanta a Bíblia e, com a voz grave, diz ser o escolhido para liderar. E, assim, os fiéis, movidos pela fé e pelo respeito à palavra divina, muitas vezes caem na armadilha. Afinal, “Deus usa as coisas loucas para confundir os sábios”, dizem.
Esse versículo bíblico é frequentemente citado em contextos de legitimação, mas o que realmente significa? Poucos param para questionar. Muitos o ouvem, repetem, e se tranquilizam ao pensar que o incompreensível pode ser parte de um plano divino. Não investigam. Não refletem. E é aqui que reside o problema. A fé cega, desprovida de questionamento, torna-se vulnerável, e a preguiça de pensar abre portas para que charlatões, safados e bandidos entrem na vida pública, apresentando-se como defensores dos bons costumes.
Quantas vezes já não vimos esse teatro? Alguém surge, aparentemente fora do sistema, grita contra a corrupção, levanta a bandeira da moralidade e da família, e logo ganha a confiança de um povo que, por acreditar estar seguindo um plano divino, se recusa a investigar o passado do candidato, suas ações ou seus reais interesses. E, assim, manipuladores, trajados de líderes religiosos, encontram um terreno fértil para prosperar.
O problema não está na fé, mas na maneira como ela é explorada. Aqueles que se autoproclamam escolhidos por Deus, muitas vezes, são os mesmos que utilizam a religião como escudo para seus próprios interesses. E a falta de investigação, a falta de pensamento crítico por parte dos eleitores, transforma esse cenário em um ciclo vicioso, onde líderes corruptos se perpetuam no poder.
No fim das contas, a frase “Deus usa as coisas loucas para confundir os sábios” é apenas mais uma entre tantas utilizadas fora de contexto. A verdadeira loucura é aceitar tudo sem questionar, é deixar-se guiar pelas aparências e pelos discursos inflamados sem perceber que, por trás deles, pode haver apenas ganância e sede de poder.
Pensar cansa, mas é necessário. A fé deve andar de mãos dadas com a razão, para que não sejamos enganados por aqueles que, em nome de Deus, buscam apenas seus próprios interesses.