Não confie na própria roupa!

-“ Não confie na própria roupa!” , dizia Teté Dantas, mulher indígena que viveu sem aldeia, mas que amava sua terra pedrada, com um tanque para colher as águas da chuva, no sertão nordestino do Brasil, atual território de Pindorama. Essa frase permite imaginar que a nossa roupa, peças que protegem do frio, dos raios solares que queimam, da nudez, entre outras funções, pode ser associada a nossa comunidade, aos nossos pais, nossos tutores, esposos e esposas, quiçá, até nossos filhos. E não seria barbárie ou uma pregação contra a família, contra a comunidade, contra os nossos, refletir as várias manifestações de atos que oprimem e não dignificam a pessoa humana que acontecem dentro mesmo do nosso espaço social.

Vestir a nossa roupa é estar junto, estar agasalhada, bonita, elegante, mas, por que não confiar na própria roupa que veste? Seria como não confiar no próprio marido ou na esposa? não confiar nos pais ou nos tutores? Mais um estupro acontece com uma mulher. Não é uma mulher qualquer e não foi mais um homem qualquer. Foram 15 homens e entre eles o ex-marido, possivelmente… um ex amor. A mulher, de 22 anos é indígena, assim como a turma que a agrediu sexualmente estuprando-a. O estupro é uma prática criminosa considerada como crime hediondo,conforme a Lei Brasileira nº 12.015, de 7 de agosto de 2009. A jovem morreu. A turma talvez pegue de 12 a 30 anos de prisão. Mas, que adianta? “Vão prender nossos parentes!” Muitos hão de dizer.

O machismo reside em todos os espaços, a cultura do patriarcado ainda resiste nos seis de nossos povos tradicionais, pois o processo de colonização foi cruel e criminoso até os dias de hoje. Estupros e assassinatos, golpeiam tanto quanto o suicídio. Quem há de denunciar a própria roupa? É inafiançável a prática que leva à morte de alguém. Não há dinheiro que pague a morte de uma vida, de uma cultura, de um povo, de uma nação. Quando morre uma mulher indígena, morre a espécie, morre uma árvore, morre um bioma. E até quando nós mesmos tocaremos fogo em nossas florestas?

Nós nos posicionamos contra o ato de estupro e de violência que perpetue o processo de colonização brasileiro contra nossos corpos, contra nossos povos e nossas tradições matriarcais. Não somos a violência! Somos a propagação da paz e do amor.

Amanda Simpatía
Enviado por Amanda Simpatía em 28/09/2024
Reeditado em 28/09/2024
Código do texto: T8161853
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.