Silêncio Constrangedor em Um Chá de Bebê

Não é engraçado encontrar um ambiente tão inóspito em um chá de bebê? Veja bem, não digo inóspito por ser imprudente ao pensar que um lugar com tanta família, amigos e desenhos de animaizinhos felizes seja impossível de habitar. No entanto, por não conhecer ninguém além da mãe do bebê, me sinto deslocado.

Deslocado porque, sem conhecer ninguém, não tenho com quem conversar. E, sem o que dizer, a primeira ação do homem moderno é recorrer ao telefone. Aquele pequeno aparelho que, cada vez mais, cresce em tamanho se torna o refúgio dos deslocados. É nele que luto para não parecer estranho ou antipático, mesmo sabendo que, na realidade, sou um pouco de ambos.

O que será que os outros convidados pensam? Devem estar se perguntando o que faz um jovem, que não conversa com ninguém, estar ali. Um inconveniente. Um estranho entre conhecidos. Tento afastar esses pensamentos, porque refletir demais só traz desespero. É por isso que os que sofrem são os que pensam; não há bênção maior que não ponderar.

É difícil evitar pensar sobre isso. Procuro algo que me distraia, mas não encontro nada. Deveria abrir um aplicativo de mensagens? Talvez, por algum milagre, uma das centenas de pessoas que não se sentem inclinadas a falar comigo, por uma graça divina, decida me dar um "oi". Não, não há ninguém. E, mesmo que houvesse, eu não estaria disposto a conversar.

Procuro então um site de notícias. Mas ler sobre assassinatos governamentais, queimadas e crimes financeiros não parece apropriado para o momento. Além disso, essas notícias não fazem bem à mente. Por isso evito os jornais — eles só trazem desgosto àqueles que pensam.

Me sinto cada vez mais ansioso. Talvez devesse tentar um jogo no celular? Não seria adequado. Um jogo é perceptível demais, com luzes constantes, sons altos e movimentos rápidos dos dedos. Tudo isso só reforçaria minha estranheza.

Cada movimento do dedo pela tela me afasta mais de uma solução. Queria ser capaz de me comunicar. Até tentei conversar com uma ou outra pessoa, mas não possuo o tato necessário para cativar uma senhora de 80 anos, orgulhosa de ser avó. Ou será que o problema é o contrário?

Cada vez mais preso em meus pensamentos, continuo deslizando o dedo na tela e espiando o relógio. Como ele pode ser tão lento? Maldita relatividade do tempo que faz cada segundo parecer uma eternidade quando se está deslocado.

"O Rafael está aqui, Lucas."

Uma frase pequena, mas que quebra a minha transe nervosa e me traz tranquilidade. Um convidado que eu conheço chegou.