Qual o real sentido de viver?
Estou doente, sim, estou sim, porém não será por causa da enfermidade que me assola que irei deixar o espírito do ressentimento me dominar. O que vou dizer, direi a todos vós: aproveitem as vossas vidas, divirtam-se, riam, pensem, vivam, mas sem exageros. Se você acha que o sentido da sua vida é ter uma família, então case-se, tenha uma família e cuide com amor e compreensão dela; porém, não critiquem os que optam em não querer o mesmo que você.
Se você acha que o sentido da sua vida é ir pra balada, beijar, fazer amor, então faça, porém seja consciente e responsável nas suas escolhas e ações; se você julga que o único sentido de viver é servir a Deus, então sirva-o de bom grado; todavia, pelo amor de Deus e de todos os deuses e mitos, deixai em paz àqueles que possuem crenças diferentes ou os que não creem em nada.
Se você acha que o sentido da vida é estudar, ou é escrever, ou é ajudar os necessitados, ou é ter muitos amigos, ou é cuidar dos enfermos que clamam por ajuda, ou é reflorestar áreas desmatadas pelo fogo da impiedade humana, ou se é criar ONGs para ajudar centenas de milhares de mulheres tão sofridas e vilipendiadas neste país de incontentáveis covardes feminicidas, ou talvez vocês queiram levar um pedaço dos seus pães e dos seus corações compassivos cheios de amor para ajudar milhões de famintos e desempregados os quais não têm sequer uma garrafa de água na geladeira (se é que há geladeira para algo guardar), enquanto escutam os soluços e as lágrimas dos filhos que choram a pedir um mísero prato com um pouco de arroz e feijão (quanta nobreza divina de espírito pulsa nas almas de quem realiza ações com verdadeira humanidade altruística a quem não tem nada para comer, como também sequer um humilde casebre para morar ou um leito para descansar o paupérrimo corpo magro, desprezado e cansado.)
Se o teu sentido de viver é comer refeições saborosas em lugares chiques ou na comodidade do seu lar, ou pode ser que teu sentido seja cantar cativantes canções porque tu amas espalhar um pouco de alegria pelas esquinas com tua voz retumbante ou talvez seja dançar como uma linda bailarina que, sozinha, borboletea sob o céu de uma lua cheia (afinal, a vida é esta dança eterna e cíclica e todos nós dançaremos no último capítulo de nossas novelas reprisadas); ou, quem sabe, teu sentido de viver seja praticar a sublimidade de ensinar, de lecionar a essas vidas tão próximas ao teu olhar e aos teus livros, vidas estas que são o cântico presente e o futuro também, simultaneamente, reverberando como as ondas da praia que reluzem ainda o cintilar daquele luar tão belo o qual nos cativa e não conseguimos entender bem o porquê.
A liberdade de ser quem somos e de trilhar o nosso próprio caminho é um dos maiores presentes que temos. Aproveitem-na com responsabilidade e gratidão. Não há sentido único para todos, mas há um ponto comum: somos como folhas de uma árvore que voejam nas ruas por um tempo aparentemente longo, porém é tão rápido, tudo é tão rápido e transitório neste mundo meu deus!
Seja qual for o caminho que cada um deve escolher ou criar, faça-o com paixão, faça-o com respeito, e, acima de tudo, com a certeza de que está sendo fiel a si mesmo. Porque, no final, o que vai restar não será galardão ou punição eternos de nossas ações pós-vida, mas a certeza daquela autenticidade do nosso ser e aquela centelha de humanidade de ter vivido segundo o que o próprio coração escolheu ou descobriu para si mesmo e que a nossa razão segurou este coração pela mão para seguir, juntos e em irmandade, os caminhos do mundo e da vida.
Encontremo-nos enquanto ainda temos um pouco de tempo, antes de o relógio de nossos dias apagar o fluir completo de seus ponteiros; melhor ainda: busquemos descobrir o sentido do nosso viver e que possamos vivê-lo com a saúde e a coragem do nosso coração, com o senso e simplicidade da nossa natureza; com a alegria e sabedoria do nosso caráter.