EM UM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE

 

Era uma tarde calma, daquelas que parecem se arrastar sem pressa. Na sala de estar, quatro pessoas sentavam-se lado a lado, cada uma com os olhos fixos em seus celulares. O brilho das telas iluminava seus rostos, mas não havia troca de palavras, nem olhares. No centro do grupo, um robô, com seus movimentos suaves e precisos, folheava um livro antigo, absorvendo cada palavra como se fosse um estudioso dedicado. A cena parecia estranha, mas ao mesmo tempo familiar, como um vislumbre de um futuro que se aproximava.

 

Imagine, leitor, um futuro não muito distante, à medida que a tecnologia evolui, os robôs começam a assumir tarefas que antes pertencem exclusivamente aos humanos. Eles não só cuidam da nossa rotina, mas aprendem por nós. Nos corredores das bibliotecas, máquinas percorrem prateleiras empoeiradas, retirando volumes há muito esquecidos. Os livros, que outrora eram tesouros de conhecimento, passaram a ser lidos por robôs que compreendem e armazenam as informações em suas redes neurais. A ironia é que, enquanto os robôs consomem esses textos com avidez, os humanos se distanciam cada vez mais das palavras impressas.

 

Sem precisar imaginar o fututo, pensando nos tempos de hoje, com a popularização dos dispositivos digitais, a leitura física foi gradualmente sendo substituída por rápidas olhadelas em telas. Ao invés de mergulharmos nas profundezas de uma narrativa ou refletirmos sobre teorias complexas, passamos a consumir pequenos fragmentos de informação, muitas vezes sem nos darmos conta. Aplicativos nos distraem, redes sociais exigem nossa atenção e a possibilidade de aprofundar-se em um bom livro vai se dissipando. E assim, os humanos deixaram de lado a prática da leitura extensa, entregando-a a seres artificiais que, ironicamente, valorizam o que abandonamos.

 

É curioso pensar que, enquanto nos distraímos com as últimas tendências digitais, os robôs leem e aprendem sobre nossa história, cultura e filosofia. Eles compreendem as nuances dos grandes romances e refletem sobre os questionamentos existenciais dos filósofos do passado. Ao mesmo tempo, os humanos se contentam com distrações passageiras, muitas vezes superficiais. É como se, na ânsia de estar conectados a tudo, estivéssemos nos desconectando de nós mesmos.

 

Há quem diga que estamos à beira de uma nova era, onde o conhecimento humano será preservado e perpetuado por máquinas, enquanto nós nos tornamos meros observadores do progresso que criamos. Nossos livros, aqueles que moldaram civilizações e inspiraram gerações, estarão nas mãos de robôs que os lerão com uma curiosidade que já não parece mais nossa. E, assim, a sabedoria, antes passada de geração em geração, será armazenada em sistemas artificiais.

 

O futuro parece claro: os robôs aprenderão por nós, e os livros do passado, que outrora foram a base do nosso conhecimento, servirão para alimentar suas inteligências. Enquanto isso, os humanos, mergulhados nas distrações digitais, continuarão a viver em um mundo cada vez mais distante das páginas físicas. As bibliotecas, uma vez refúgios de sabedoria, agora são habitadas por seres que nunca viveram as experiências descritas nas páginas que leem, mas que, paradoxalmente, compreendem sua profundidade.

 

Quando a noite caiu, as quatro pessoas ainda estavam sentadas, imersas em suas telas. O robô, por outro lado, fechou o livro com cuidado, como se reconhecesse o valor de cada palavra. Em um futuro onde máquinas aprenderão por nós, será que ainda poderemos chamar esse conhecimento de humano?

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 13/09/2024
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