Uma história sem interesse
Nesta história não há nada de extraordinário. O personagem é comum, assim como o enredo deste singelo conto. Se você busca uma leitura arrebatadora e cheia de altos e baixos, sinto muito! Pode parar a leitura agora… Aqui contarei apenas aquilo que é morno, médio e insosso.
Carlos era um rapaz mediano, de altura e de personalidade. Não chamava atenção das pessoas e também não passava totalmente despercebido. Ninguém que conversasse com ele saia com uma impressão de recordação eterna, nem para o ódio e nem para o amor.
Durante anos de sua vida, Carlos buscou surpreender as pessoas de todas as formas, gastava horas do seu dia buscando alternativas e falas surpreendentes para impressionar a primeira pessoa que visse na rua. Como você já sabe, Carlos nunca surpreendeu.
Houve outra época em que este rapaz fazia de tudo para desagradar as pessoas, buscando ser rebelde e subversivo, mas o máximo que ele conseguia era fazer parte de um grupo de militantes que apagava a sua identidade, deixava-o sem feições, apenas com sentimento de revolta.
Sentado, assistindo TV, Carlos subitamente teve uma reflexão (sinto muito em não surpreender vocês, a reflexão não era tão boa assim): ele percebeu que não adiantava se esforçar para agradar ou desagradar as pessoas, porque não adiantava. Sendo assim, restava ele viver a sua vida de acordo com o que ele achava certo ou errado, seguindo os seus instintos. Assim, pouparia esforço e energia vital. Levantou-se correndo do sofá e foi viver a sua vida seguindo suas vontades.
Ao sair na rua, uma senhora o cumprimentou, e ele - sem vontade alguma de falar com aquela senhora - simplesmente virou a cara e saiu andando, despertando um sentimento terrível de desprezo naquela mulher.
Carlos seguiu sua vida sem saber que quando decidiu não provocar e surpreender ninguém, provocou a fúria interna e desvairada de uma senhora que o amaldiçoou para o resto de sua vida.