Lapso

Estive dormindo por quase 14 anos. Um dia era vivo e estava a criar poesias de todos os tipos, assuntos e tamanhos, no outro dia dormi, e o sono perdurou, durou, se prolongou tanto que acabou por me matar, manchar, marcar minha alma, e me esvaziou por completo. Mal sei, hoje, quem sou, qual poeta fui, muito menos quais tormentos me devaneavam entre os mundos-sonhos que habitava.

Acontece que ressucitei dentre os mortos, e confesso um pouco orgulhoso que, dos mortos todos que encontrei ali o mais vivo era eu. Vivi, vivi bem, padeci também, mas pelo morto poeta que fui nesse lapso de tempo, um tanto quanto mais longo o mais viváz era eu e tudo que pude fiz. A família aumentou um pouco, depois encolheu, mas ainda assim está maior. Chegaram-se também mais amigos, mais amor, mais valor. A dor me fazia o melhor, eu acho, morreu, serenamente, docemente, em algum momento desse espaço-tempo.

Então ressucitei não-poeta que agora sou, tentando poetizar novamente. Talvez quem sabe agora sem dor aparente, talvez uma dor fingida. Será? A dor fingida será que serve para poetizar? Ou ela toda morrerá em mim novamente o ser que deveras sente que pode ser urgente?

Morreu aquele poeta que vivo agora quer estar. Vive ele agora da dor fingida que se pode dirfarsar em dor real que de verdade sangra e poetiza?

Não sei, mal sei o que e quem sou eu que agora ressucitei.

Josemar Fonseca
Enviado por Josemar Fonseca em 02/09/2024
Reeditado em 03/09/2024
Código do texto: T8142889
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