Asco
Asco. Que palavra dita, maldita?
Depende de onde se coloca. Comparando com uma prateleira, podemos posicioná-lo ao lado de algum livro. Aí, vira referência: o asco à esquerda do livro tal, ou talvez à direita de fulano, com sicrano no centro. O asco pode ser apenas um olhar sobre a capa; nem cheiro precisa ter. É uma antipatia instantânea, talvez a cor não convém. Feromônios? Impossível ser só de olhar. Pode ser algo subliminar que atinge o calcanhar. A textura do papel? Folha dupla, folha simples, perfumada para disfarçar?
Seria o olhar? Castanho, verde, azul, preto... pode ser todo o globo ocular. Difícil escapar. Talvez seja o andar, o jeito de firmar os pés, ou talvez os braços, peludos ou lisinhos. E o cabelo? Crespo, liso, e quem não tem? Aí complica. Mas pode ser apenas o jeito de falar, de pensar. Duas vias sempre devem ter ida e volta no ser. Que pena dos ignorantes, que se valem de sua insensatez, de sua morbidez, talvez por serem apenas pequenos pires rasos, feitos para aquelas sopinhas ralas e coloridas amarelo crepúsculo, sabor chuchu.
O fato maior é onde se colocam as palavras ouvidas da santa boca, que diz ter asco de vários livros, mas quer ficar ao lado, fazendo papel de paisagem, para aparecer em algum porta-retrato com um belo sorriso, abraçado a quem sempre teve desdém. É vero, mas poderia ser apenas uma anedota.