A Diversão da Destruição

Quase acreditei na sua promessa

E o que vejo é fome e destruição

Legião Urbana – Metal Contra as Nuvens

Começamos aqui com uma simples pergunta: quem nunca fez uma fezinha na vida?

Afinal, as pessoas acreditam que a sorte sorrirá pra elas. Mas o que vejo nos últimos meses é desespero e destruição.

Vejo a dor de famílias que se desestruturaram por causa dessa febre de apostas que assola o país. A pandemia das bets.

Existem histórias estarrecedoras de gente que gasta parte do salário que era pra se alimentar e pagar as contas apostando em uma ilusão. A do dinheiro fácil que acaba com uma dívida incontrolável e impagável.

Uma diversão que se transformou em um vício tão terrível que virou um grave problema de saúde mental no Brasil.

E no fim de tudo, o máximo que conseguem é receber a visita do agiota a sua casa após receber contínuas ameaças vendo seus pertences sendo confiscados pra pagar a dívida de jogo e sua honra sendo destruída tendo uma das consequências, o suicídio.

As apostas estão impregnadas neste país onde praticamente tudo é apostado. De esportes a política, passando aos assuntos mais bizarros que possa imaginar, leitor e leitora fiel.

E chegam até mesmo a usar a fofura de um inocente tigrinho pra atrair crianças a jogatina. Sem perceber, porque acham que é um joguinho como qualquer outro no celular, as crianças acabam gastando o dinheiro dos pais que não entendem o porquê dos seus orçamentos não cobrir as despesas do mês.

Mas é no futebol que a situação das apostas é bem mais complexa. E pra pior.

Ali praticamente apostam o cenário do jogo, manipulando o roteiro a seu bel-prazer. Quem fará a primeira falta, quem será o primeiro expulso, qual jogador marcará o primeiro gol do jogo e até qual time fará o maior número de escanteios, entre outras situações que deveriam ser aleatórias e acabam não sendo por causa destas apostas.

E aqui apresenta-se outra situação do poder destrutivo que as apostas tem. O de demolir as crenças dos amantes de futebol no jogo limpo e que está lendo no jornal do dia seguinte, o relato verdadeiro daquela partida.

Então me pergunto e tenho certeza de que os verdadeiros torcedores independentemente do time que torcem farão a mesma pergunta ou pelo menos os mais moderados: De que adianta se esgoelar (e brigar) pelo time do coração se fora das quatro linhas, o jogo é manipulado pelas apostas vindas tanto de dentro como de fora do país?

Hoje não há garantias de que o jogo é limpo e honesto. E tristemente vejo o futebol com outros olhos. Um esporte corrompido até os ossos com estas espúrias apostas.

Pra mim, que aprendi a gostar de futebol desde criança sendo um dos meus principais focos na vida e cuja monografia de conclusão do Curso de História da UFPEL que fiz entre 1998 e 2003 teve como tema justamente o Futebol em Pelotas entre 1901 e 1941, descobrir que o futebol foi tomado pelas apostas foi um golpe duríssimo, mas fazer o quê se o dinheiro é quem realmente manda no pedaço?

Parafraseando Renato Russo, o inesquecível líder do Legião Urbana, a pessoa que aposta perde primeiro sua sela, depois sua espada, seu castelo, sua princesa, sua dignidade e nos casos mais extremos, sua vida.

Se essa pandemia da jogatina não for levada a sério pelas autoridades, o país estará a beira de um colapso econômico e de saúde sem precedentes, com as famílias mais e mais endividadas e aniquiladas por um vício aparentemente divertido, mas destruidor.

No entanto, existem pessoas que lucram com a dor alheia e se divertem pisoteando a dignidade daqueles que acreditaram na promessa de honestidade e transparência em um jogo de algoritmos marcados pra apenas um desfecho: a eterna derrota do apostador.

Esses beneficiados nunca terão problemas. Estão do lado da banca que nunca perde e que é cruel e implacável.

Em suma, existem os “tolos” que apostam e o ladrão que fatura sem esforço algum.

E existem aqueles que lutam pela justiça e pela reparação das vítimas acreditando num país melhor mesmo sabendo que os adversários jogam de forma suja e covarde e se perguntando se existe algum lugar onde a banca não consegue vencer quem não tem chance.

Será que haverá um sopro do dragão capaz de salvar o Brasil de ser arruinado pela diversão que traz fome e destruição?

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 09/11/2024
Reeditado em 09/11/2024
Código do texto: T8193300
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