Sonhos e propósitos
Em Julho de 2018, ao término das aulas de natação na universidade, estipulei uma meta para o segundo semestre do ano: aprender o nado crawl - ou seja - nado de frente.
Eu aprendi a nadar de costas e tinha muita dificuldade em aprender o crawl. Difícil coordenar braços, pernas e respiração ao mesmo tempo. Braços e pernas junto até dava certo, mas fazendo apneia. Se respirava eu afundava.... kkkk
Em agosto voltei a nadar. A água em 24, 25 graus e eu lá, firme, nadando de segunda a quinta - direto. A Daniela M., companheira de nado que me motivou à natação, junto comigo na água gelada.
O professor Denis, vendo minha eterna dificuldade com o crawl, propôs que eu aprendesse o nado de peito. Maravilha! Amei esse tipo de nado. E comecei a praticar todos os dias.
Então caí e quebrei o nariz. Voltei a nadar mais de costas (pra proteger os pontos do nariz da água) e a praticar o peito usando um macarrão debaixo dos braços. Mas, me esforçando, todos os dias a aprender esse nado tão diferente.
E não é que gostei? Dizia pro professor que talvez esse seria o nado da minha vida.
Então surgiu mais um problema: em minha viagem de volta de São Bento em agosto eu decidi voltar à noite, após o término da aula (família não concordou, mas eu teimosa, teimosa...). Resultado: peguei uma neblina assustadora na descida da serra. Só eu na estrada (e meus 3 alunos caronas). Velocidade em 20, 30 e 40 por hora. Freio direto porque é só descida até Corupá.
Então aconteceu: eu saí da estrada e quase desci o abismo em determinado momento.
Fiquei muito, muito nervosa. Começou a doer forte o joelho direito. Como eu precisava frear o tempo todo a dor foi se estendendo para a perna toda, pé. Cheguei em Blumenau morta de cansada e com uma dor fenomenal na perna toda.
Com o nariz quebrado e tomando um medicamento fantástico pra dor (do nariz rsrss), não sentia mais nada. Até o remédio acabar na semana passada.
A dor no joelho voltou com tudo. Até pisar era complicado.
Fui no especialista em joelho. Ele disse que não é estrutural, que é trauma nos tendões. Por isso, o inchaço. Tratamento? Fisioterapia. E o medo de o médico cortar o nado? Mas ele recomendou.
Iniciei as sessões de fisioterapia e voltei às aulas de natação com o joelho inchado e dolorido e o nariz ainda inflamado por dentro, onde quebrou, segundo a doutora.
Por tudo isso, voltei, nadando devagarinho, sem forçar muito as pernas e o nariz. Brincando na água, na verdade, com apoio do professor.
Então aconteceu. Hoje o professor pediu que eu voltasse a usar o nariz. E que praticasse o nado peito.
Lá fui eu. Uma, duas, três voltas indo de costas e voltando praticando o peito.
Então ele veio e me desafiou a tentar o crawl. Pediu que eu fizesse todo dia umas tentativas pra reaprender a respirar e tentar aprender a nadar de frente.
Uma, duas, três voltas, indo de costas e voltando tentando praticar o crawl.
Então, a surpresa. Teve um momento que achei que consegui. Mas não tinha certeza.
Esperei o final da raia e anunciei: - professor, acho que consegui. Olha!!!
E lá me fui nadando o crawl.
Ai, agora já estou emocionada! Eu consegui!!!! Eu aprendi a nadar de frente como tinha me proposto. Consegui coordenar pé, mão e respiração.
Nem acredito, mas eu consegui!!!
Claro que não atravessei a piscina a nado, mas consegui fazer uns bons metros.
Só elogios do professor. Ele disse que meu nado crawl foi excelente!!!!
Realizada!
Ao final da aula o professor confirmou: estou nadando crawl.
E combinamos que vou nadar todos os dias pra aproveitar bem o tempo até dezembro.
Ao ir embora disse ao professor: - pena que a Dani não estava aqui. Vou escrever contando.
Ele disse: pode escrever. Diga que o Denis falou que agora você já faz dois tipos de nado: de costas e crawl!!!
Ao saber a Dani brincou comigo: Rose* Phelps!!!
É, Daniela M.! Depois de hoje, com Phelps ou sem Phelps: o Pacífico que nos aguarde!
* Meu apelido de casa - desde nêne!
"Nunca desista de seus sonhos. Eu venci o pânico de água, aprendi a nadar de costas (e era muito veloz - professor sonhava comigo competindo). Aprendi nado de peito (aquele esquisito) e, por fim, após 2 anos nadando e tentando de tudo que é jeito aprendi nadar o crawl (que é o primeiro que todo mundo aprende). Então eu sei é possível. Nunca desista dos seus sonhos. Transforme cada um deles em propósito. Você pode, você consegue. Eu aposto em você!".
Em 2019 eu tive duas mortes súbitas. Uma em março e outra em setembro. Exatamente neste dia, 24 de setembro daquele ano, eu estava na UTI no quarto dia de coma e as pessoas orando por mim, pedindo por minha vida. Tive de fazer uma cirurgia em fevereiro de 2020 para implante de dois aparelhos no peito, um CDI (desfibrilador) e um ressincronizador de batidas (cada metade do meu core batia para o lado contrário da outra - o aparelho força elas baterem juntas como o os outros corações batem). Na mesa de cirurgia, peito aberto, aparelho só faltando ligar os fios, coração parou. Terceira morte súbita. Fui ressuscitada pelo meu doutor. Com isso tudo, os médicos proibiram natacão, não pelo esforço físico, posso erguer peso ou escalar montanhas se quiser, mas porque nasci com essa doença que causa morte súbita. Se tiver morte súbita na água e ninguém estiver perto pra me proteger e tirar rapidamente de dentro dela, o CDI vai me dar choque para o core voltar a bater, mas os plumões já estarão cheios de água e morrerei afogada.
Então, sozinha, não posso nadar, nem entrar em rio, piscina, mar. HOJE ao lembrar disso tudo falei numa mensagem à Dani: com Phelps ou sem Phelps o pacífico ainda está no meu horizonte, pode ser de bote, canoa, jangada ou navio... um dia vou lá... E quem me conhece sabe que vou conseguir....