NATAL EM CONTRASTE
Sentei-me diante do computador com o objetivo de compor uma poesia, que pretendia ler durante a tradicional ceia que, como tantos afortunados brasileiros, também eu realizo com familiares e amigos, na véspera de Natal.
Pretendia uma poesia que retratasse a alegria que, de modo geral, invade as pessoas nessa ocasião. Comecei assim:
Alegria! Alegria!
Proclamam os anjos do Senhor,
Nasceu Jesus, nosso salvador.
Alegria! Alegria!
Nota-se nos rostos das crianças,
Das afortunadas crianças,
Que sonham com os presentes pedidos,
Que certamente virão depois das comilanças.
Mas, a partir deste momento, me invadiu um sentimento de que algo estava errado. Comecei a pensar nas famílias pobres, que sequer têm um teto para se abrigar, uma roupa para se cobrir, um pão para se alimentar. Afinal, pensei, o Natal, para muitos, nem sempre é alegre. E, sem que me apercebesse, digitei:
Tristeza! Tristeza!
Percebe-se nos semblantes dos pais,
Que engolem seus ais,
Ao ver a mesa sem pão.
Decepção! Decepção!
Estampam as crianças,
Aquelas pobres crianças,
Descalças, descamisadas e famintas,
Que ousaram sonhar com brinquedo qualquer.
Parei aí. Não pude continuar. E pensei que se não existisse o natal talvez fosse melhor. Pelo menos essa noite seria igual a tantas outras. E ainda que os bem postos na vida deixassem de ter um motivo especial para se alegrarem, muitos outros, não teriam um sofrimento extra.
Quanto a mim, já não sei o que sinto neste momento e vou avisar a minha mulher que se me flagrar com lágrimas nos olhos (sou um chorão) ao ver a mesa com peru, rabanadas, castanhas, panetone, etc, não pergunte se estou alegre ou triste, apenas me beije.
Que este seja um verdadeiro natal, um natal de renascimento, de renovação e, sobretudo, de esperança de dias melhores (que ao menos a esperança não falte aos desafortunados).
Um FELIZ NATAL, para todos.