Carta à Papai Noel

Sempre fui um menino comportado, tímido, cedia meu lugar aos outros, esperava minha vez.Inevitavelmente, um dia, tornei-me homem.

Ainda com alma de garoto, trago a poesia dentro de mim, verde no olhar e imensa curiosidade sobre o mundo.

Olho ao redor e meus contemporâneos não são mais meninos.Esqueceram em alguma árvore, no último campinho de futebol, na festinha adolescente, sua porção-criança.

Andam taciturnos, angustiados, apressados. Dirigem seus carros, sua vida, sua empresa, como se o mundo fosse amanhã implodir em mil pedaços. Conquistam postos no mercado de trabalho, trocam sua esposa por uma moça mais nova, embebedam-se de uísque, cigarro e tédio.Mas, são infelizes...

Olho para eles com minha alma de poeta.Onde, ainda, encontro espaço para brincar com imagens e palavras. Por isso, chamam-me louco, sem responsabilidade, no mínimo esquisito.

Com o correr dos anos, aprendi que esta é minha essência. É pelo que vou lutar até o fim de meus dias neste Planeta.Como seiva vital me alimento, depuro angústias e verto poesia.

Papai Noel, então, te peço. Não afaste esta linda moça chamada Poesia de minha vida.

Que ela continue a iluminar meus momentos no breu, fecundar corações desesperançados, ser a voz que clama pela Justiça e Fraternidade.

E que possas espargir esta Beleza, neste Natal, e nos dias vindouros.

Ricardo Mainieri