Nos ombros do gigante

Como o João do Pé de Feijão,

assim a menininha se sentia olhando pra cima. Com a diferença que a 'árvore' dele, ia dar numa nuvem; a dela, ainda maior, numa estrela.

Numa estrela brilhante, no topo da árvore de Natal.

Tal como o João, ela era pequena numa Terra de Gigantes. Uma terra inconsistente, uma terra-nuvem.

Uma sensação de estranheza, de inadequação, a acompanhava.

Ela não compreendia a razão de seu desconforto, que crescia a medida que os parentes chegavam, e com eles, comida, risada, barulho de móveis sendo arrastados, talheres caindo, neném chorando, música alta, TV ligada, tudo ao mesmo tempo.

E sua cabeça girava.

"Tomara que ninguém me encontre"- dizia consigo mesma, tapando os ouvidos.

Esse pensamento a perturbou ainda mais. E se não me encontrarem? ou pior, e se não notarem a minha ausência?

De repente, eis que um gigante sorridente, abrindo espaço entre os galhos da árvore a encontrou, escondidinha entre os presentes.

A tomou em seus braços, e com a habilidade de um pizzaiolo, a transferiu aos ombros.

E nessa hora a mágica aconteceu.

Estendendo a mão, ela podia tocar a estrela!

Não permaneceu ali tempo suficiente para crescer e se transformar num gigante, mas o necessário para perceber que olhando das estrelas, tudo é muito pequeno...

A menininha teve que voltar para o chão, mas o seu olhar

Não.

Lorena Lira
Enviado por Lorena Lira em 16/12/2024
Reeditado em 17/12/2024
Código do texto: T8220746
Classificação de conteúdo: seguro