Nos ombros do gigante
Como o João do Pé de Feijão,
assim a menininha se sentia olhando pra cima. Com a diferença que a 'árvore' dele, ia dar numa nuvem; a dela, ainda maior, numa estrela.
Numa estrela brilhante, no topo da árvore de Natal.
Tal como o João, ela era pequena numa Terra de Gigantes. Uma terra inconsistente, uma terra-nuvem.
Uma sensação de estranheza, de inadequação, a acompanhava.
Ela não compreendia a razão de seu desconforto, que crescia a medida que os parentes chegavam, e com eles, comida, risada, barulho de móveis sendo arrastados, talheres caindo, neném chorando, música alta, TV ligada, tudo ao mesmo tempo.
E sua cabeça girava.
"Tomara que ninguém me encontre"- dizia consigo mesma, tapando os ouvidos.
Esse pensamento a perturbou ainda mais. E se não me encontrarem? ou pior, e se não notarem a minha ausência?
De repente, eis que um gigante sorridente, abrindo espaço entre os galhos da árvore a encontrou, escondidinha entre os presentes.
A tomou em seus braços, e com a habilidade de um pizzaiolo, a transferiu aos ombros.
E nessa hora a mágica aconteceu.
Estendendo a mão, ela podia tocar a estrela!
Não permaneceu ali tempo suficiente para crescer e se transformar num gigante, mas o necessário para perceber que olhando das estrelas, tudo é muito pequeno...
A menininha teve que voltar para o chão, mas o seu olhar
Não.