Tempo de Natal.

Natal é sempre natal! Nem a mudança de século nem a tecnologia, nem os problemas sociais e políticos fazem com que o espírito natalino acabe ou o encanto e a fantasia se percam.

De repente a cidade muda. As lojas decoram suas vitrines. Os prédios se enfeitam, as varandas, sacadas e portarias se iluminam. Fica tudo mais colorido, mágico. As pessoas também mudam. Há uma eufoalegria (mistura de euforia com alegria) no ar. Todos falam dos planos para o Natal em família. É comum encontrar as pessoas buscando nas lojas novos enfeites para as árvores de natal. As crianças vibram com a possibilidade de encontrarem Papai-Noel nos shoppings, nas ruas ou em alguma esquina, quem sabe? Quando isso acontece, algumas ficam com medo e se escondem por entre as saias das mães ou enterram o rosto muitas vezes molhados do choro amedrontado nas camisas dos pais; outras desconfiam (afinal, algum coleguinha comentara que Papai Noel não existia! Mas como? Se ele estava ali?). A magia está nesta alegria inocente.

Assim foi naquele final de tarde. Um estabelecimento bancário inaugurava sua decoração natalina. Havia uma expectativa no ar. Todos estavam convidados a conhecer a casa de Papai e Mamãe Noel. Quando as luzes da cidade acenderam, e os sinos da igreja em frente soaram, as luzes da casa também se acenderam e Papai Noel surgiu pela porta. Logo começou a nevar. As crianças que estavam lá gritaram excitadíssimas! Umas eufóricas chamavam pelo Papai Noel, outras encantadas com a neve, queriam sentir nos dedos se era gelada, se derretia indiferentes aos trinta e dois graus e a brisa quente que soprava.

Neste mesmo instante, do outro lado da calçada, duas crianças para quem a realidade supera o sonho e a fantasia, comentaram: “Crianças bobas aquelas! Não vêem que é um homem fantasiado. Papai Noel não existe! E que neve que nada! Aquilo são bolinhas de isopor.” Pensei: “Cadê a inocência destas crianças? Aonde foi parar o sonho? Será que ainda conseguem olhar e ver o colorido da vida, ou só enxergam em preto e branco”?

Imaginei como seria bom que acontecesse um daqueles milagres de Natal que passamos a nossa infância vendo nos filmes ou ouvindo nossos pais e avós contarem. Que num passe de mágica, um trenó conduzido por anões alegres e brincalhões estacionassem naquela avenida e levassem aquelas crianças para conhecer a casa onde Papai Noel mora. Ver que Mamãe Noel também existe. Mostrar onde fica a fábrica de brinquedos e principalmente ganharem de presente, a inocência perdida.

Alguns minutos mais tarde o espetáculo acabou e as pessoas se dispersaram. As crianças voltaram para casa e tudo voltou à normalidade. Eu como estava de espectadora daquela estória permaneci observando aquelas crianças e vi que após a calçada ter esvaziado, elas correram e foram tentar olhar através da vidraça para ver se ainda conseguiam ver Papai Noel. Podia-se ver nos olhinhos deles um brilho de esperança! E se ele for de verdade? Aposto que gostariam de tocá-lo! Não o viram mais. Então começaram a catar aquelas bolinhas de isopor do chão e as jogavam para o alto e gritavam eufóricas: “Olha a neve! Olha a neve na casa do Papai Noel!”!

Atravessei a rua. Percebi que de certa forma um milagre de Natal havia ocorrido: aquelas crianças não haviam perdido a inocência e ainda conheciam o colorido da vida.

Wanda Recker
Enviado por Wanda Recker em 06/12/2005
Reeditado em 07/12/2005
Código do texto: T81746