Jardim natalino
Caminhava pela rua assistindo ao pôr do sol, pensava no quanto o entardecer estava agradável. Vi as primeiras luzes natalinas serem acesas nos jardins das casas. A noite chegava ao ritmo de canções que pareciam entorpecer o coração.
Duas horas depois, no meu quarto, tirando algumas roupas da gaveta, dobrando alguns lençóis, me dei conta de que a minha cabeça estava em outro lugar; refletindo sobre o âmago da vida.
Foi quando percebi que o cacto na minha janela falava, em voz mansa, alguma coisa que não compreendia. Por que não compreendia? Ah Deus, porque era tão difícil compreender tudo o que o silencio tinha a me dizer?
Talvez porque eu estava mais concentrada no meu passado do que no meu agora...
Respirei fundo, aquietei a mente e tentei ouvi-lo outra vez. Mas o meu incessante repertório interno falava no momento. Esse repertório, conjunto de histórias que habitam em nossos corações, às vezes nos separa da paz.
Lá fora, várias famílias ouviam suas músicas natalinas que ecoavam no meu quarto. Fui capaz até de imaginar o Papai Noel chegando em seu trenó. A criança que existe dentro de mim foi capaz de vê-lo e ouvi-lo!
O Natal é a centelha divina que habita no coração dos homens. É sopro constante dos poetas. É a magia que se petrifica; é o nascer de Cristo, o renascer do Deus interno de cada um de nós. É a época que pressagia o inicio do ano novo e a esperança de uma vida renovada. O Natal é a constante sabedoria das crianças...
E olhando para o cacto na minha janela, percebi que olhava para os meus próprios espinhos e decidi beijá-los; abençoá-los por terem se transformado numa obra prima da natureza. As experiências boas e ruins devem ser plantadas no lindo jardim da sabedoria, e é desse jardim que o poeta define a sua pintura literária.
Livrando-me do sofrimento do ego pude encontrar a paz e ouvir o que o cacto, as experiências e o silêncio têm a me dizer. Eles diziam: Segue em frente porque tu só vais até onde teu coração permite e de coração limpo podes ir até o infinito.
E assim eu fiz, voei sobre o céu azul, nas asas da inspiração. E com os pés no chão caminhei até uma casa branca, local onde estavam todas as pessoas que amo, e ali pude celebrar o Natal... E ali renasci diante de ti, Senhor.