É Natal. É Natal! É Natal?
É Natal. Começa a surgir pelas ruas e avenidas a aurora natalina.
De novo o mesmo jingle bell naftalino, happy christmas de Jonh Lennon ( a versão cantada pela Simone, me desculpem, mas me dá uma certa aversão), o vermelho e o verde captaneando as cores aplicadas nas propagandas e embalagens, as crianças já enchendo o saco dos “pais noéis” para comprar o presente que já foi escolhido com bastante antecedência e que com certeza vai mudar em cima da hora, e o décimo terceiro para os presentes e para trocar de celular, já era antes de ser. Signos imperecíveis de uma herança da revolução industrial que faz girar a roda do consumismo com mais intensidade nessa época. Ângulo visto, é Natal à vista ou em até 24X.
É Natal! Noite feliz! As pessoas põe em dia a prática da terapia corporal acumulada durante 359 dias do ano: abraços, apertos de mãos e beijos batem recorde. Fartura nos pratos e nos copos compõem a cena de uma peça em cartaz em que os papéis são sempre os mesmos. Só mudam os atores. Cada um já sabe suas respectivas falas muito bem decoradas e arrotadas com descrição e requinte. Até os sopapos verbais ou vias de fato, chegam a impressionar de tão reais. A ressaca pós véspera tráz a realidade etílica para mais perto do hálito de cada um. Tudo fica melhor no dia seguinte. Até o perú que é o único que morre na véspera, fica mais saboroso pra preencher um vazio que passa rápido. Afinal ainda tem o reveillon.
É Natal? Sabe que tem gente que não sabe o que é isso? Mesmo, festejando!
Festejando o quê? Dizem as boas línguas que é a data de nascimento do salvador da humanidade. As más línguas se dizem esquecidas dessa festa. Não foram convidadas.
Odeiam ouvir tudo que foi dito nos parágrafos acima. Isso se muitos soubessem ler.
Mas a vida é assim mesmo (é mesmo?). Existem os bons velhinhos e os maus velhinhos ambos de vermelhinhos. Será que não é uma daquelas charadas seculares que até hoje ninguém matou? Ou mataram e não encontraram o corpo? E se não encontraram o corpo não há charada. Bem, não estamos falando de Sherlock Hollmes e sim de Natal e Natal não é crime. É creme.
Porém vou dizer bem baixinho, discretamente nos pés dos ouvidos: eeeu, acrediiiito, no Naatal. Pssshuuuuu. E sabe como ele é para mim? Primeiro não tem forma, nem cor. Não aparece como um duplo arco-íris que deixa as pessoas com cara de bobas. Não tem jingle bell, não tem parentes serpentes com presentes, não tem árvore de Natal, não tem ceia, não tem cartão de boas festas e um próspero ano novo proporcionado por cartão de crédito. O meu Natal, por ser só meu, faz as lágrimas rolarem para dentro. E acontece uma mágica nesse instante: elas se condensam tornando-se cristais — em muitos cristais — que se ajuntam formando uma estrada resplandecente onde me vejo caminhando olhando para as placas de sinalização que me dão a certeza que é um caminho sem volta. Adiante há uma ponte e sob ela vejo a multidão sequiosa por suas pontes. E vindo da direção da extremidade de minha ponte, ouço um som indefinido. Acelero o passo estimulado por uma luz imarcescível que me atrai e quando chego perto, percebo que uma palavra ecoa: pai, pai, pai...Era meu filho me chacoalhando na cama pra me dizer que eu perdí a queima de fogos que foi um espetáculo inesquecível de luz.