O antigo Natal

Tenho muita saudade do Natal dos tempos de criança, isso de quando eu tinha meus cinco ou seis anos, muitas décadas atrás. Aquilo sim que era o Natal em essência. A crença no Papai Noel era indiscutível, quase um dogma. Rezar para o Menino Jesus também era sagrado.

Meu pai Benedito, carinhosamente apelidado de Nêgo, não media esforços para presentear eu e minha irmã Luciana com toda a sorte de brinquedos. Tamanha era a sua satisfação em agradar aos filhos que na noite de Natal ele espalhava farinha de trigo no assoalho da casa e fazia as pegadas do Papai Noel.

Atrás da porta às vezes tinha um saco com os presentes, mas na maioria das vezes eram apenas os presentes embrulhados em lindos papéis, que a gente com toda a inocência ia lá procurar na festiva manhã de Natal.

Teve um ano que o vizinho se vestiu de Papai Noel e ia chamando criança por criança pelo nome e entregando os tão esperados e sonhados presentes. Eu ficava muito admirado pelo fato de Papai Noel conhecer todas as crianças pelo nome. No Natal daquele ano eu ganhei um helicóptero de plástico que, conforme as rodinhas deslizavam pela superfície do chão, as hélices se moviam e acalentavam os meus sonhos de voar em meus pensamentos e histórias.

Pena que a gente cresce e perde a ilusão. Eu particularmente não gosto mais da época de Natal com esse enfoque de festa comercial, com tantos presentes e comida sem fim. Dou mais valor ao verdadeiro sentido de Natal que é comemorar o nascimento de Jesus, a luz do mundo, o Messias que veio para salvar a humanidade do mal e nos conduzir à felicidade plena.

A diferença dos “Natais” é que o antigo priorizava essa aura de inocência das crianças, aliada à união das famílias para comemorar esse momento solene e nunca se esquecer do real motivo a comemorar: Jesus.

Já o Natal da atualidade nada tem de sagrado, é a expressão máxima do consumismo e das relações familiares que existem somente nas fotos postadas nas redes sociais. Passou o Natal, cada um pro seu lado, para o seu mundo egoísta, e se esquecem da união pregada pelo aniversariante da data.

Que o espírito do antigo Natal prevaleça sobre todos nós, reunindo todas as famílias numa troca sadia e desinteressada de presentes, resgatando a inocência de nossas crianças na crença em Papai Noel como o sempre esperado Bom Velhinho, sem os apelos comerciais. E que nosso Natal seja o que realmente ele tem que ser, a festa de aniversário de Jesus Cristo, o presente mais valioso e eterno que nos foi dado com muito amor por Deus Pai Todo-Poderoso.

Publicada na "Coletânea de Natal" - Páginas 90 e 91

Editora: PerSe (2019) - Projeto Apparere