À procura da manjedoura
Este ano quero um natal diferente, não vou me conformar em festejar só com peru, vinho, castanhas e a turma toda disputando o melhor presente. Quero mais, muito mais. Quero fugir do senso comum, das bolinhas coloridas, das luzes de neon, das falsas estrelas, as quais não me conduzem a manjedoura.
Quero encontrar o meu Menino Deus.
Pela fé que me rege, eu sei que Ele está permanentemente ao meu lado, porém, na minha pequenez não consigo sintonizá-Lo com tantos apelos auditivos e visuais. Até tento, durante minha caminhada matinal, no decorrer do dia, à noite no meu quarto, mas em vão, há sempre alguma coisa atrapalhando, e a conexão torna-se artificial, automática.
Este ano já decidi, não vou ficar perambulando pelo centro, tentando encontrá-Lo no rosto de pedinte que atravessa o meu caminho, menos ainda, no coral que canta e encanta nas noites em festas, nas lojas entulhadas de mãe arrastando os filhos pelo braço, nas filas dos supermercados, ou nas grandes celebrações religiosas. Não vou!
Quero, quem sabe, procurá-Lo em alguma montanha - Aí sim, perdido no meio das serras, poder tocar as pedras, sujar os pés com o pó da estrada, ouvir o barulho da cachoeira bem ali do lado, e os pássaros que trazem mensagens do céu. Lá no alto, ao final da caminhada, purifico-me nas águas que brotam do coração da terra, curvo os meus joelhos e posso enfim ouvir o canto dos anjos e ver a verdadeira estrela guia.
Ou ainda posso optar por uma procura diferente, quem sabe um grande hospital, numa ala de transplantados, onde a luta e a esperança renasce todos os dias por de trás das máscaras cirúrgicas, sem ter data especial. As dores e complicações pós- operatórias parecem insignificantes para quem recebeu um órgão novo e junto à expectativa de vida, de renascimento. A presença do Menino Deus permanece ali, na coragem dos doadores, nas mãos dos médicos, e nos cuidados que os rodeiam.
Que cada um encontre o seu Menino Deus, a sua maneira, mas O encontre.
Então, Feliz Encontro!