A grande opção

Na medida em que celebramos o Dia de Natal, um espírito diferente envolve o mundo. As razões podem ser diferentes para cada um, mas todos mergulham nessa realidade que se repete há dois mil anos.

A chegada de Cristo como o Messias, foi longamente preparada (3.774 anos desde a promessa a Abraão), como se pode constatar minuciosamente nas páginas do Antigo Testamento.

Essa maneira de Deus vir criança está entre as mais surpreendentes realizações, dentro do projeto de Deus. Na imaginação do judeu comum, a figura do Messias esperado deveria brotar como um herói acima de todos os heróis do passado. Enfim, era o Messias! E embora as profecias falassem de uma criança, não era uma criança que enchia a imaginação judaica. Era um valente que passaria a limpo todas as vicissitudes por que passou aquele povo sofrido. A começar daquele momento: a libertação do jugo romano.

Mas quem chegou foi uma criança.

Isto bastou para que as atenções se dispersassem, ao ponto de decorrerem trinta anos sem que quase nada fosse percebido.

Quando começa a vida pública de Jesus, é então que começam as surpresas e as divisões. Ao final, com a morte e a ressurreição, o mundo judeu estará dividido em duas partes, à semelhança do que acontecerá em todo o percurso da História restante, como acontece até hoje. Todos querem um Deus, mas cada um O faz à sua maneira.

Lá ficava claro que o Messias não viera somente para o povo judeu e muito menos para resolver um problema circunstancial daquele momento. Ele viera para o mundo inteiro e para a História inteira. E viera, sobretudo, para mostrar uma nova forma de reinado e de poder.

Sua pobreza destronava a riqueza. Sua humildade destronava o orgulho. Sua sabedoria destronava a vaidade do pensamento humano. E sua vida, como um todo, punha por terra a neurose do sucesso, declarando-o frágil, provisório, inconsistente, estéril e inútil. E destronou a violência pela mansidão que perdoa e não revida.

Ele tinha tudo o que desejavam. Mas sempre de modo diferente. Os que O compreenderam mergulharam nele até à coragem da morte. Os outros decepcionaram-se profundamente, transformando a própria frustração em vingança e morte. Foi aí que apareceu a maior das diferenças que Ele veio trazer: para Deus, a vida pode ser morte e a morte pode ser vida. O que dá sentido a uma e outra coisa é a fidelidade. Fidelidade a tudo o que é divino e, consequentemente, fidelidade a tudo o que é verdadeiramente humano.

Mas tudo começou com uma criança.

A partir daí, a História estará dividida entre duas opções: a fidelidade e a fraude, a verdade e a mentira.

Não é a História enquanto tempo que se divide. É a História enquanto essência que estará dividida entre essas opções.

Daí se pode dizer com propriedade que a Salvação chegou. No sentido de que ela está ao alcance de quem quiser. Poderão continuar tentando salvar o mundo com as receitas mais variadas. Mas sempre sem sucesso.

Porque a Salvação é uma só, é única. Ou se aceita a transparência da sinceridade, ou se prosseguirá mergulhando cada vez mais fundo nas trevas dos interesses.

E tudo começou com uma criança.

Lição forte a dizer que é preciso renascer. Que não adianta remendar desastres com outros desastres, mas que a certa altura, é necessário reconhecer os erros e voltar atrás para começar de novo como uma criança, renunciar aos descaminhos e retomar caminhos abandonados lá atrás impensadamente.

Essa criança veio dizer que os problemas que os homens enfrentam e que se agravam, não são coisas abstratas, que podem ser resolvidas com raciocínios e cálculos, ou com instrumentação sofisticada, própria do nosso tempo.

Os problemas residem no homem. E ali devem ser resolvidos. Ou não haverá solução. Sem homens pacíficos não haverá paz. Sem homens justos não haverá justiça. Sem homens capazes de amar com generosidade não haverá amor. E sem essas coisas o mundo será um inferno cada vez maior e mais doloroso.

Gostaríamos de comprar soluções. Mas o caminho é dar a vida por elas.

BiaSil
Enviado por BiaSil em 21/12/2021
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