NATAL

A névoa invisível e conveniente pairava sobre todos. A alegria fingida que o momento exigia em cada detalhe escondido por laços vermelhos.

Os gestos mecânicos de uma cerimônia fadada ao fracasso de cada um.

O lobo escondido e adormecido pelo bom senso do inconsciente coletivo. Alguns sapos, nunca convidados, mas sempre engolidos discretamente pelo bem comum.

Um dia e uma noite ou uma véspera e um dia a enganarmos a nós mesmos por Ele.

Para abraçarmos quem já não amamos, beijar sem desejo ou declarar votos que sequer acreditamos, por Ele, que tudo Sente e Vê.

O grito de dor sufocando o peito.

A frieza do outro todos os dias.

A fraqueza e a nossa indiferença. O fracasso e a fuga.

O refúgio do sono durante o dia e a paz camuflada a noite.

Mas, Hoje engula todos os sabores e dores, misture-os com salpicão e nozes.

Beba o champanhe a meia noite. Comemore a vida Dele em oração. Brinde em alto e bom som. Saboreie o peru e a farofa. A maionese e o frango. O chester e o panetone. Não se importe com as passas no arroz. Experimente tudo a noite toda. Afinal a gula não foi intimada.

E por fim, vigie seu lobo por todo o tempo para que não desperte consciente pelo álcool ingerido em excesso nas tuas veias o fazendo protagonista indesejado de uma Festa que nunca foi tua.

Drica Love Barreto