A MANJEDOURA SOB A MARQUISE

Amanhece véspera de Natal.

Na noite anterior vi que alguém se preparava para a festa que viria , em meio à agitação da cidade piscante e sob o frio que descia das profundezas do céu.

Dum céu que acoberta a todos...

Ele...ou ela...quem seria? Qual a sua história?

Mas o que importaria saber se a mensagem ali já estava selada?

Quem a realizar o ato possível dum leito pré Natalino tão cuidadoso, dentro das dignas e tão parcas possibilidades terrenas?

Ali, ainda não chegara o convidado principal e, apenas de passagem, eu O pude sentir pulsante, ressuscitado e deitado ao relento das vidas que viria resgatar dos tantos léus do mundo, a oferecer o aprendizado amoroso que abre todos os caminhos impossíveis.

A poucas horas, alguém se deitaria ali, encarnado de carne sofrida mas de alma digna e fervorosa, a logo abrir seus olhos sôfregos de Humanidade que passa aturdida, sempre alheia aos detalhes primordiais.

Então, logo dobrariam todos os sinos das Catedrais do Mundo a anunciar o milagre da consciência do Advento que sempre chega para todos.

Como deve ser a consumação dos majestosos Reinados: na simplicidade grandiosa, coroada com as guirlandas da Verdadeira Vida.

Alguém se deitaria ali, sobre lençóis alvos como as luzes, cansado dos dias e das noites, todavia, a encenar visceralmente a simbologia dos presépios dos tempos, sob a aura de encantadora poesia que gritaria em perene oração.

Então, foi passando pela calçada que, mesmo sem os ver, eu ouvi os anjos louvarem clemência ao Natal do Homens, ao derredor da manjedoura logo ali, na entrada da igreja, preparada sob a Marquise dum tempo deveras bem frio...

Que Deus esteja conosco.