O burrinho e a vaquinha
Rosária tem idade suficiente para olhar a vida e agradecer tudo a Deus. O marido já faleceu há anos. Não tiveram filhos. Tiveram sobrinhos e pessoas que adotaram para ajudar. Não daqueles verdadeiros adotados com papel e assinaturas de cartório. Mas os adotados que precisavam apenas de alguém que os amassem. A Rosária é uma pessoa culta, mas isso não lhe tira a solidão, e acha-se uma pessoa sozinha, meio abandonada. Porém, no meio disto tudo, tem um ar de graça. Tem uma forma de ser divertida. Há dias disse-me que pedia muitas vezes uma coisa a Deus. Para satisfazer a minha curiosidade, contou-me o pedido que fazia insistentemente a Deus. Pedia-lhe que a deixasse ser o burrinho do presépio. O pedido e o segredo eram sérios, mas nós duas rimos a vontade. E continuou. Ó minha querida, o burrinho ainda carregou Nossa Senhora com o Menino. Eu nem para isso sirvo. De fato, o pedido era mais sério do que parecia de início. Mas para compor o momento, achei-me no dever de concordar com ela dizendo que se ela pedia para ser o burro, eu poderia ou deveria pedir para ser a vaquinha. Não, não era pelas tetas. Rimos. Era mais pela graça de estar ali ao lado da mãe e do Menino, e eu nem sempre consigo estar com eles. Rindo nos despedimos as duas, mas o assunto era sério.