Uma crônica nada natalina

Era véspera de Natal e o mundo estava mais agitado que o de costume. Os religiosos fazendo seus retiros espirituais, ou jogando mísseis, naturalistas aumentando o consumo de ervas e incenso, hippies aumentando o consumo de marijuana e ateus/agnósticos discutindo a importância do Natal e a influência nefasta da religião nesta data. Pessoas como o Charles, o protagonista desta história, passam o natal de uma outra forma. Pessoas como ele preferem ficar em casa e optar por três escolhas: Jogar no computador com os amigos, ficar com a família que esqueceu de você durante todo o ano, mas se lembrou no Natal, ou jogar com os amigos enquanto bebe álcool. Charles escolheria a última opção, porém sua mãe o forçaria a ficar com família, mas isto não é sobre Charles. Charles tem o seu momento em uma outra história. Isto é sobre o significado do Natal. Talvez o Charles apareça; gosto dele.

Sem mais delongas, nossa história começa na África, bem antes da África ser um continente, nos meados do século IV para ser mais exato. Havia um homem chamado Sebastião Anum. Ele era conhecido por trazer alegria às crianças merecedoras de afeto. O modo como ele determinava quem era mais afetuoso que outros era pela quantidade comida que alguém portava. Houve uma certa época que Anum fora perseguido por seu método de escolha: O índice de mortes nesta época era grande; As crianças simplesmente não comia para ter brinquedos. Anum tinha vários assistentes. Um deles foi o Saci.

Saci era o seu braço direito. Não preciso dizer que ele foi o mais empenhado nos truques mágicos. De todos os pigmeus –seus ajudantes eram pigmeus- o desvelado conseguia construir inúmeros brinquedos em muito pouco tempo, apenas com o seu Tornado Construtor. O talento de Saci era tão encantador que as pessoas chegaram a construir estátuas e a reverencia-lo como se fosse Anum. E apesar da idolatria, Anum nunca se intimidou, muito pelo contrário. Ele via Saci como um futuro sucessor de seu poder; O poder de trazer alegria -clichê, eu sei, mas tudo sobre o Natal é clichê.

Todo ano eles se vestiam de forma diferente, foi quando Anum deu a ideia de se vestirem da cor vermelha, pois naquela cultura a cor do sangue significada a vida perpetuando, um colar de ossos, para agradar os espíritos, e um gorro com um bolinha branca, que não significava nada. Porém Anum selou seus poderes na bolinha branca do gorro. Com a ansiedade dos povos africanos para o dia esperado, o dia de receber os presentes, o trabalho de Anum e seus ajudantes só aumentava. O muito estresse no ambiente acabou causando uma briga entre Anum e Saci. Anum queria presentear os mais dignos de afeto e o Saci queria presentear todos os que prestavam reverencia ao grupo. A briga entre os dois gerou duas facções: A Facção Norte e a Facção do Sul.

No dia da entrega de presentes, todos estranharam Saci e sua facção. Eles rejeitaram todos os presentes e ficaram apenas com o de Anum, que interveio com um comunicado aos cidadãos da África: “Amigos e amigas, hoje estamos divididos em duas facções, mas ambos queremos o mesmo fim: A felicidade dos mais necessitados. Não rejeitem os presentes de Saci e seus ajudantes.” Seu comunicado aumentou seu prestígio e enciumou Saci.

Lendo os livros antigos, Saci descobrira que um dos maiores poderes de Anum era a eloquência e então tramou a uma vingança para ser adorado mais do que Anum. Com a Eloquência, todos se curvarem as suas estátuas e desta forma sua popularidade aumentaria, aumentando assim a dependência dos outro para se ter felicidade. Saci governaria com esse poder, mas não poderia pô-lo em prática no momento. Os povos estranhariam a ascensão e poderiam rejeitá-lo.

Alguns séculos se passaram e Saci finalmente conseguira a oportunidade ideal para pegar o poder de Anum: Espero-o preparar os camelos voadores e colocar todos os presentes da cesta, pois esse era o momento em que toda a sua facção estava empenhada em enfeitar os camelos de Anum. Usando seu poder criar redemoinhos, Saci retirou o gorro de seu antigo amigo e arrancou a bola branca. Após arrancar, fugiu da ira de Anum. Foi perseguido por toda a África, até que a África passou a odiar Anum. Onde Saci passava a mensagem sempre dita era “Anum é mau”. Sendo rejeitados por todos, Anum e sua facção viajaram para as terras gélidas do Norte, onde conhecera o Mago Noel.

Noel ensinara muitas coisas a Anum, e quando morreu, ele assumira seu legado. Ao invés de camelas, teria renas. Ao invés de cestas, teria sacos mágicos onde tudo poderia ser posto sem gerar nenhum peso. A facilidade para trazer alegria, ainda que pouca, era tão contagiante que os pigmeus mudaram de cor. Anum também mudou sua cor. Agora eles eram a brancos e entraram para a Ordem dos Bem Feitores do Noel: Uma organização voltada para investigar a vida de todos e impedir que investiguem a sua; algo parecido com a segurança que o Estado propicia.

Enquanto isso, os povos da África eram presos e vendidos como se fossem mercadorias. Todos os membros da Facção do Sul foram pegues, incluindo seu líder, o Saci e levados a um outro país. Anum, que agora assumira o legado de Noel, passou a se chamar Papai Noel. Sabendo então da captura de Saci, voou até as Américas e dedicou todo os eu tempo em sua busca. Começou como nativos do extremos norte, passando pelos antigos maias até chegar no território brasileiro.

Investigando as florestas brasileiras, Noel encontrou um jacaré falante e algumas sereias. Seres nunca visto antes. Dirigiu-lhes a atenção e pergunto-os “Vocês viram Saci?”, o jacaré falante respondeu “Sim, ele está no centro da floresta com algumas crianças”. Noel enraivecido correu para o centro da floresta e o encontrou. Saci estava divertindo as crianças com seu redemoinho e algumas outras travessuras. Noel, agora com novos poderes, assustou as crianças e tentou pegar a bolinha branca na ponta do gorro de Saci.

Ele tentou fugir com um redemoinho, mas Noel fora mais ágil. Impedi-o de fugir e o amarrou n’uma árvore. Tirou os eu gorro e pegou a bolinha branca. Noel pegou um machado no seu trenó e disse ao Saci “Você é culpado por ter roubado a alegria de muitos. Estragou vários natais apenas para ter poder. Como punição você perderá uma perna. Assim seu redemoinho nunca será o mesmo”. Noel cortou a perna de Saci e o aprisionou para sempre n’uma garrafa de vidro.

Este é verdadeiro significado do Natal. Fazer o bem, lutar pela justiça e trazer a felicidade para muitos, mesmo que você tenha que cortar a perna de alguém. Saci quis fazer o bem prejudicando alguns em troca de poder e publicidade, enquanto Noel apenas desejou fazer o bem por ser uma ação nobre. Façamos pois o mesmo e nos livremos de todos os Sacis.
Krabat
Enviado por Krabat em 08/12/2015
Reeditado em 08/12/2015
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