" UM NATAL COM QUASE NADA " (2015)
(Republicação do mesmo texto de 2013 e 2014, apenas trocando o Título)
Mais um Natal está chegando! E com ele vem as reflexões, fazendo aflorar as emoções por entre os poros. Natal envolve sentimentos... lembranças... muitas vezes, tristes!
Passei por muitas dificuldades na infância com minha família. Não gosto de falar que éramos pobres, porque pobre na minha concepção, é quem não tem nada! Tínhamos o básico: Casa para morar, comida simples na despensa e a natureza exuberante em nossa volta.
Morávamos em um pequeno sítio no interior, entra as cidades de Amparo à Morungaba. Um lugar maravilhoso digno de um paraíso, encravado entre duas montanhas e lindos vales.
Meu avô fazia várias plantações no sítio para consumo próprio. Além disso tínhamos galinhas, porcos, e algumas vacas: coisas de sítio. De tudo isso, provinha nosso sustento. Outros produtos complementares em nossa despensa, era comprado na “Venda do Mino”, nome popular dado ao armazém do Sr. Maximino.
O natal era uma época muito esperado, num passar de tempo que parecia não ter fim! Tudo era muito simples. Já no final de novembro, tínhamos o hábito de montar um presépio, cuidadosamente guardado em cima do guarda roupa numa caixa de sapatos durante o ano inteiro. Minha tia catava musgos das rochas da cachoeira, além de areia grossa e pedras do ribeirão para compor o cenário onde seria colocado o “ranchinho” do Menino Jesus. Bem no centro, colocávamos uma pequena árvore de natal, feita de folhas metalizadas, que já nem brilhava mais, de tão velha e desgastada pelo tempo. Mas aquilo para nós era a coisa mais linda e importante do Natal. Nós, as crianças, viajávamos por entres os detalhes do “pequeno mundo” do presépio.
Enfim chegava o grande dia da véspera de Natal. Na noite não tínhamos o hábito de fazer a ceia, até mesmo porque meus avós não tinham dinheiro para montar uma mesa cheia de pratos natalinos. Mas ficávamos esperando dar meia noite para colocar a imagem do Menino Jesus no presépio. Gente! Dormir depois da meia noite era o máximo para nós, as crianças. Quem já morou em sítio sabe do que estou falando; oito horas estão todos deitados para dormir.
No almoço do dia de natal, a minha avó colocava um leitão para assar logo de manhã, abatido alguns dias antes pelo meu avô e meu tio. Além disso era assado um frango que minha avó matava, e quando sobrava algum dinheiro tinha “carne de vaca”, como era dito, cozida com batatas. Para acompanhamento ela fazia arroz branco, macarronada, e salada de maionese com legumes, geralmente o que tínhamos na horta. Para beber tinha refrigerante de garrafa. Detalhe: Refrigerante era coisa rara na época, e nem todos podiam comprar com frequência.
Gente! Aquilo era um sonho... era o melhor almoço... os melhores pratos do mundo... O refrigerante a gente bebia bem devagar para não acabar do copo, pois não tínhamos muito, eram só algumas garrafas. Ah, estava esquecendo da sobremesa... Como tínhamos leite, minha tia fazia um manjar de leite, com açúcar queimado no fundo... Um verdadeiro sonho!
Comíamos muito, e ficávamos com os lábios todo vermelho com a macarronada. Curtíamos aquele dia como se fosse o último dia de nossas vidas!
E o presente? E o papai noel?
Ah! Deixemos pra lá!
E assim os anos se passaram, e as coisas foram mudando, com a vida e com o progresso!
Hoje, ainda espero muito o Natal... e chega e vai tão rápido, que a gente nem curte tanto devido a correria do próprio natal. Tudo mudou!!! Não digo que hoje sou rico e tenho tudo o quero, pois estaria mentindo! Mas os tempos são outros, e por mais que ousamos reclamar, as coisas melhoraram muito, para todos. Hoje temos o luxo de fazer uma ceia na noite de natal com toda a família! Trocar presentes! Comprar roupas novas, sapatos, perfumes... às vezes mesmo sem precisar!
Temos o luxo de comprar o melhor brinquedo para os filhos. O luxo de fazer um almoço no dia do natal, com pratos variados, muitas carnes, bebidas, sobremesas e frutas variadas! Tão farta, que a gente passa uma semana comendo o que ficou na geladeira.
Não temos o luxo de comer as mais nobres das castanhas, frutas exóticas, champanhes importadas, bebidas caríssimas, doces raros... etc.
Mas isto não importa e não nos fazem falta nenhuma. O que importa é que estamos vivos, com saúde, com a família reunida, e com a mesa farta! Hoje percebo que o mais importante é o estar junto, o bem querer, a alegria da vida!
Quanto ao presente? Me basta um abraço! Depois de tantos tropeços e lições pela vida, a gente, agora, entende o verdadeiro sentido do Natal!
Natal é nascimento! É o Nascimento de Cristo nos corações de todos!
Quanto ao meu passado, se alguém perguntar se tenho saudades? A resposta seria: SIM! Muitas saudades...
Se precisasse viver tudo de novo, viveria com muita alegria, pois era uma época de inocência, de conquistas, de verdadeiro, de honestidade... Uma época onde a simplicidade era o bonito da vida! Não tínhamos praticamente nada, mas o “simples” preenchia tudo!
Mais um Natal está chegando. Logo estará aí. Desejo a todos um feliz natal, cheio de simplicidade.
Pois esta é a verdadeira mensagem do natal: Simplicidade!!!
Se fosse de outra forma, Cristo teria nascido num palácio e se apresentaria deitado num berço de ouro, cravejado de pedras preciosas!
Finalizo, com um trecho de um belo canto Natalino, o qual me inspirou em escrever este texto:
“ Simplicidade... é mensagem de Natal. Deus é criança... nunca vimos coisa igual! Mãos encontram mãos e no calor da união se faz Natal!