A Pequena Morte
Andando pelas vias das quais conhecia tão bem, ele parou o carro na frente da casa que lhe era mais familiar, e o desligou.
Pensou em abrir a sua porta, pensou em buzinar, mas sabia que não era mais bem-vindo ali. Sabia que iria apenas causar mais problema.
Na frente da casa, as luzes de natal se trocavam entre vermelhas e azuis, e ele a observava lentamente, sentindo que a cada troca de cor a situação piorava.
Sabia que não existia solução.
Sabia que era tarde demais para assumir que ainda doía.
A luz da casa transformava lentamente o interior do carro em vermelho, e sem perceber, ele começara a socar o volante incessantemente esperando causar algum dano. Queria arrancá-lo dali, queria destruir o painel junto com teu punho. E a cada soco, o próximo se tornava mais fraco, sua mão oscilava em dor, se tornando cada vez mais dormente aos impactos.
E quando chegou ao seu limite, segurou o volante novamente, e moveu as mãos lentamente para a parte superior dele enquanto tentava conter o choro. E abaixou a cabeça, encostou a testa na parte aonde era a buzina. E por alguns momentos, gritou, com toda a sua força remanescente, toda a sua dor fora.
Houve um momento de silêncio.
- Isso faz doer menos? - Perguntou a garota sentada no banco ao lado.
- Não. - Respondeu ele, de forma seca, fazendo um leve suspiro e continuando - Não tem como você entender, você não sente, nem existe.
- Hm. - Concordou ela - Se você diz...
Assim ela deixou cair uma lágrima, no exato momento que começara a chover. Ela a secou rapidamente, apoiou-se no ombro dele e lhe deu um leve beijo na cabeça.
E lhe sussurrou no ouvido.
- Eu ainda lhe amo.
- Eu sei disto Sarah. - respondeu depois de um longo tempo, mas quando olhou para o lado, ela não estava mais lá.
Então ele ligou novamente o carro, enquanto que a luz mudava lentamente para azul.