NATAL DE ANTIGAMENTE

No início de dezembro mamãe comprava a árvore de Natal, que era uma jovem araucária (pinheiro natural), plantada em uma lata, que depois das festas era transplantada para o quintal ou qualquer outro local. Ela tratava de cobrir a lata com papel dourado ou prateado. Os enfeites eram, básicamente, anjos de papel, coloridos e colados em um recorte de papelão, com uma camada de cola e purpurina. Bolas multicoloridas e guirlandas prateadas, muito finas, completavam a decoração.

Esses enfeites eram importados da Tcheco-Eslováquia, caros e  muito frágeis.
Mas aí é que estava o supremo encanto das festas de fim de ano. Nós crianças, que ajudávamos na decoração da árvore, éramos ensinados a manuseá-los com cuidado. Durante o resto do ano não tínhamos acesso a essas preciosidades que ficavam guardadas no lugar mais alto do guarda-roupa.

Cada criança recebia um único presente, meninos um carrinho, uma bola,
ou joguinho de peças para montar, em madeira. Eu ganhava uma boneca simples, um joguinho ou uma bijouteria. E ficávamos tão contentes!

Em nossa casa não vinha Papai Noel. A festa era Dele, do Menino Jesus! E sinto muita saudade da simplicidade do evento. No máximo, ganhávamos uma roupinha nova para comparecermos à missa do dia 25.

Não havia ceia de Natal ou qualquer outra extravagância. O almoço do dia 25 era igual ao de um domingo comum, geralmente macarrão feito em casa, que para nós era uma iguaria.

Na noite de Natal vovó saía conosco para vermos, de longe, a visita de Papai Noel às casas mais abastadas da pequena cidade do interior. Ficávamos com uma pontinha de inveja daqueles meninos de famílias ricas que ganhavam tantos presentes e pensávamos que eram mais felizes que nós. Ledo engano!

A missa do galo, tradicionalmente à meia-noite era vedada à criançada, que ia para a cama cedo. Não havia televisão, computador. Obedecíamos, sem questionar, ordens maternas ou paternas, ou mesmo de vovó ou vovô.

Dia 25 era a grande festa. Levantávamos cedo e corríamos para ver o que havia sob a árvore. Lá estavam os presentes com nossos nomes e com eles brincávamos o dia todo, numa alegria sem fim. À missa das dez horas comparecíamos empertigados em nossas modestas fatiotas novas.

Até hoje não me adaptei à forma mercantilizada do Natal que encontrei na cidade grande. A exagerada quantidade de comida servida nas ceias de 24 e 31 de dezembro. Tão calórica, mais adequada ao inverno do hemisfério norte e não ao calorão dos trópicos. A profusão de enfeites e luzes, a propaganda que exclui o Menino Jesus e o substitui pelo velho barbudo em roupa nada condizente com nosso verão. A corrida desenfreada às compras e ao consumismo exagerado.

Me assusta o êxodo compulsivo para as praias, ou para qualquer outro lugar, como se fosse imperativo  deixar nosso lar.


Ah, que saudade do Natal de minha infância!
Como éramos felizes!
Aloysia
Enviado por Aloysia em 20/12/2014
Reeditado em 21/12/2014
Código do texto: T5076169
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