Há pessoas para quem o Natal é só uma data. Gente que se senta no sofá de forma mais pausada, com uma rabanada que alguma amiga lhe deu, à espera que a televisão dê a meia noite para ir até ao vale dos lençóis. Há gente assim, que não tem outra gente com quem partilhar os sons, os ruídos, as algazarras, os afazeres, os talheres, as lembranças do Natal. Gente que uns dias antes estive no jantar as empresa com o grupo dos colegas. Mas que agora está só. Não tem mais ninguém. Não tem o amigo ou a amiga colorida porque estes estão com a família. Não tem o filho ou a filha porque este ano pertence ao outro pai. Não tem os amigos, porque nem sempre há amigos para estas ocasiões do Natal. Ou então são aqueles que a idade não permite que o Natal seja tão Natal. Porque os filhos estão longe. O marido ou a esposa já morreram. O lar está fechado ou vai-se para a cama cedo. Passam o Natal com a televisão. Nada mal para quem há uns anos nem televisão tinha. Mas eu acho que estes tipos de Natal são muito dos Natais modernos. Fazem parte da vida moderna, para quem uma reunião é apenas uma reunião e não uma união. Fazem parte da vida que nos dá tudo, mas nos tira grande parte do amor. Fazem parte da vida que está cheia, mas afinal está mais vazia que nunca. Pode ser que, com esta crise, as pessoas comecem a buscar o essencial do Natal, aquele essencial que não é só uma celebração, mas uma forma de vida. E digo àqueles para quem o Natal é só uma data que o Menino também nasceu para eles. Eu até diria mais. Diria que o Menino nasceu sobretudo para eles.