O MELHOR PRESENTE DE NATAL

Era véspera de natal de 1961, a pobre mulher internada no Hospital São Francisco, hoje um dos integrantes do Complexo da Santa Casa. Um domingo feio, cinzento, ventoso, o Centro da cidade quase deserto. Dezoito horas encerravam as visitas. Ela adoentada era proprietária de uma infecção adquirida depois de uma cesariana, no momento habitava a enfermaria juntamente com outras três. Talvez lá pelas 17:00 horas entra o carrinho trazendo a janta e todos os pacientes se animam, uma sopa é posta ao alcance da infectada e para surpresa de todos a filhinha, fruto da cesariana se acomoda e começa a experimentar a sopa, no que é repreendida pela avó que acompanhava os três netos na visita à mãe. Enfim alguém abre a porta e sentencia que todos deveriam se retirar. Na cabecinha das crianças uma injustiça, a meia noite o menino Jesus chegaria e estariam longe da mãezinha. Já estavam na porta e a mãe chama o menininho beija-lhe várias vezes e lhe alcança uma caixinha de algodão vazia que havia sido esquecida pela enfermeira. Certamente era o presente de Natal que ele tanto esperara. Lá se vão os quatro, a avó, a irmã mais velha, ele e a irmã mais moça, seguem pela avenida Duque de Caxias até o viaduto, descendo pela escadas atingem a Borges de Medeiros. Precisavam ser rápidos, pois o papa-filas sairia logo em seguida, eram de hora em hora e a espera representava uma tortura. Uma pequena rajada de vento arranca a caixinha da mão do menininho e sai rolando pelo calçamento. Avenida perigosa onde passavam os bondes e os enormes papa-filas. Num golpe rápido ele se solta da mão da avó e sai correndo atrás da caixinha, mas logo é pego pela roupa e sacudido pela preocupada avó que descarrega um sermão e algumas sacudidas. Seguem mais alguns metros e o presentinho lá se vai rolando na direção da Riachuelo, lá se foi o presentinho.

Talvez um presente convencional não tivesse representado, tanto naquele como nos outros natais, provavelmente por isto o menininho lembra muito pouco deles.

Nos Natais seguintes estavam todos juntos. Os presentes convencionais perderam o sentido e deixaram de representar o espírito do Natal, ao contrário das caixinhas e seus segredos.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 24/12/2013
Reeditado em 05/01/2014
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