A morte do Natal
Natal, Natal, Natal.
Jorge Linhaça
Ajudantes de Papai Noel correm para cima e para baixo, acotovelando-se pelos corredores
das lojas do comércio popular. Crianças mimadas batem o pé apontando este ou aquele brinquedo, seu desejo de consumo criado pela força da mídia e pelo meio em que vivem.
As maquinetas de cartão de crédito já beiram a exaustão e a indigestão causada pela ingestão de tantos e tantos cartões de bandeiras diferentes. Os funcionários das lojas, vendedores e estoquistas, percorrem corredores, sobem e descem escadas numa maratona digna dos mais preparados atletas de elite.
Por todos os lados, festões, árvores e enfeites de natal disputam a primazia com a figura do Papi Noel, seja ele de carne e osso ou na forma de bonecos animados movidos a pilha. Há de todos os tamanhos e formas imagináveis.
A árvore de natal ainda resiste... Embora o presépio cada vez mais caia no esquecimento.
O aniversariante do dia jaz esquecido sob a enxurrada de tarefas, preparativos de viagens, lista de compras e a euforia dos festejos.
Quando aquela famosa marca de refrigerantes esboçou seu primeiro marketing de natal, dando cores e vida ao Papai Noel, pouquíssimas pessoas imaginaram que seria o início do fim do verdadeiro significado do natal.
Se perguntarmos a 100 crianças qual é a primeira coisa em que pensam nesta época do ano, 95 delas ( numa visão otimista) vão dizer Papai Noel...pouquíssimas hão de se lembrar de Jesus Cristo.
Entre os adultos a coisa não é diferente. O Natal, para os mais tradicionais é apenas um feriado que deve ser dedicado à família, uma ceia farta ( ou não tão farta) e muito vinho ou cerveja para “relaxar” depois da correria das últimas semanas.
O Menino Jesus tornou-se um personagem coadjuvante, um extra que, quando muito, faz uma ponta muda no cenário do filme dos festejos de natal.
Na TV e nos cinemas, pipocam filmes de Papai Noel, de sonhos de Natal e por mais que se procure, nenhum deles faz qualquer alusão ao nascimento do salvador da humanidade.
O presépio, quando existe, é apenas mais um enfeite, cada vez mais encolhido, limitado a uma manjedoura. Nada de reis magos, de pastores, ovelhas, paisagens.
Quando eu era menino, e depois como pai, a maior alegria era montar o presépio junto com as crianças, desembrulhar as figuras antigas, juntar as novas aquisições e montar aquele grande diorama do cenário descrito nas escrituras. Uma mesa revestida de papel pedra, espelhos representando rios sobre as pontes por onde passavam os pastores se encaminhando até a manjedoura ...uma estrela pendurada simbolizando a estrela de Belém que guiou os reis magos até o mestre dos mestres ainda lactente...
E tudo isso foi se perdendo graças ao velhinho vestido de vermelho dirigindo caminhões de refrigerante...o natal, que significa nascimento, já não representa mais isso, as pessoas sequer sabem o significado da palavra. Uma pena!