O NATAL EM MINHA VIDA (Projeto Minhas Histórias)
O NATAL EM MINHA VIDA
Em Ventura não havia lojas onde pudéssemos comprar mimos e presentes especiais. Há quem afirme que lá já houve um comércio significativo, onde vendia-se até máquina de costura, mas tudo que alcancei foram os três armazéns da família. O de vovô e o de titio eram no estilo mercearia e o nosso, “secos e molhados”, isto é, também era loja de tecidos, armarinho e material para “ornamentação” de urnas funerárias.
Apesar das dificuldades, mamãe sempre dava um jeitinho de comprar algo para que os nossos sapatinhos não ficassem vazios na noite de Natal. Aproveitava as viagens de papai à “cidade grande” e quando ele retornava tinha um cuidado especial de esconder os presentes, para que acreditássemos que foi o Papai Noel quem os trouxe. Era a única noite do ano que concordávamos em dormir com a lamparina apagada. Era necessário, senão o Bom Velhinho não se aproximaria.
Como cristã fervorosa, mamãe nunca deixou de nos ensinar o significado do Natal. Montávamos um pequeno presépio, apenas com os recursos que dispúnhamos à nossa volta. Supernatural, mas simbolizava o nascimento de Jesus e rezávamos agradecendo as bênçãos recebidas e rogando a Deus que nos livrasse da guerra e do comunismo.
Uma “Árvore” era o meu sonho, por isso cobríamos um galho seco com algodão e o enfeitávamos com flores coloridas, confeccionadas em papel crepom.
O dia de Natal era uma festa! Abrir os presentes que Papai Noel deixou nos sapatinhos era bom demais, mas eu deveria ter prestado mais atenção à felicidade estampada nos olhos de mamãe e papai por nos proporcionar aquela alegria.
Tudo isso mudou quando eu tinha dez anos e o meu irmãozinho, apenas cinco. Papai do Céu precisou da nossa mamãe e a levou. Desde então, nunca mais Natal, nunca mais sapatinhos junto às caminhas, nunca mais Papai Noel.
Mas o tempo passou, eu cresci e decidi reconstruir meu Natal. Não era a mesma coisa, mas tinha Parque de Diversões, Barraquinhas de pescaria, Coreto da Praça transformado em cabine de rádio, onde as pessoas pediam músicas e as ofereciam aos amigos, aos “paqueras” (esse é do meu tempo). Apesar de parecer bobo, não deixava de ser divertido. Aquela multidão circulando na Praça, todos alegres, conversando. Namorados desfilando de mãos dadas, isso era importante! Quando um rapaz decidia passear ali de mãos dadas com uma moça era um sinal de compromisso. Significava que ele estava assumindo o namoro. Hoje isso talvez seja chamado “mico”, como tudo que é saudável, correto e romântico.
O mundo deu mais algumas voltas e eu passei a ocupar o lugar da minha mãe. Agora eu tinha um filho e queria que ele vivesse o Natal como eu imaginava. Não tinha recursos? E daí? Tinha amor e fé. Quando ele tinha um ano não pude comprar uma árvore, mas comprei um “pisca-pisca” e o coloquei numa planta. Ele adorou! Nos anos que se seguiram eu fazia o máximo de esforço e esperava ansiosa a hora de ver aqueles olhinhos brilharem com a chegada do Papai Noel, mas tinha um detalhe muito importante: apresentei a ele um Papai Noel que trazia os presentes que Papai do Céu, mandava. O pedido era feito a Deus de forma racional: “Papai do Céu, eu queria ganhar um presente no Natal, mas se você não puder me dar, não vou ficar triste.” Essa consciência eu fiz questão de passar pra ele, sempre que me pedia algo. Apesar de amarmos demais os nossos filhos, não podemos esquecer que o mundo é uma selva. O meu presente para ele era sempre algo bem simples, mas o de Papai do Céu que Noel trazia, eu não media esforços para que fosse “grande”, e o mais interessante é que aqueles olhinhos sempre brilharam ao receber qualquer coisa. Por mais simples que fosse, ele agradecia. Aos dois anos, encontrou no sapatinho um carrinho com pedais. Vibrou muito, adorou. Logo depois entreguei o “presente de mamãe” - uma guitarrinha de madeira que ele não largou a noite inteira.
E a roda da vida continuou girando. Deus tem permitido minha presença ao lado do meu filho que agora já é adulto, mas continua amando o Natal, e a linda árvore que adorna a nossa casa sempre tem sido patrocinada por ele. Talvez se eu tivesse feito tudo diferente, hoje eu não teria sequer uma Árvore de Natal e muito menos motivos para vê-la brilhar.
FELIZ NATAL!!!!!!!!
Fátima Almeida