SIMPLICIDADE - É A MENSAGEM DE NATAL
A família estava completa, para o casal Valentim e Antonia. Walter, o primogênito, com 13 anos, Maria de Lourdes, seguia, com 12, Waltencir, com 10, Waldyr, com 09, Vicente, com 07, Maria das Graças, com 03 anos e Ana Maria, a caçulinha, com 07 meses, visto que nascera em Maio.
O NATAL do ano de 1952 mexia com todos, e Mamãe, com toda aquela confusão de crianças, de todas as idades correndo pela casa e demandando atenção constante, os mais velhos para não “aprontarem” muito e a menininha dependendo de fraldas e mamadeiras, ficava atarefada o dia inteiro. Mas, como boa mãe e administradora do lar, “calejada”, havia ensinado aos filhos, boas maneiras e espírito de comunidade e respeito, onde os “mais velhos” ajudavam os “mais novos” nas tarefas diárias.
À noite do dia 24, a movimentação da casa estava no auge, com as crianças aflitas para chegar a hora de irem para a cama dormir, para quando acordarem os presentes do MENINO JESUS já estarem aos pés das camas. Mamãe Antonia, dando por encerradas as lidas do dia, chamou todos para rezarem ao pé do Presépio que sempre armava tendo como complemento a Árvore de Natal. Nesse ano, era um galho seco de goiabeira que fazia as vezes do pinheirinho. Os galhos ornamentados com flocos de algodão e algumas bolas vermelhas dependuradas, tudo firmemente enterrado numa lata de leite ninho, com areia de construção devidamente socada, que servia de base à nossa “árvore”, estava armado na mesa da sala, ao redor dela a família se reuniu. Mamãe, tendo ao seu lado, Papai, que segurava ao colo a pequenina Ana Maria, começou falando que agradecia por estarmos juntos, apesar das dificuldades por que passaram durante o ano, com doenças e falta de recursos, mas sempre com esperanças de dias melhores. Todos nós deveríamos rezar e agradecer pelas bênçãos que recebemos e pelos presentes que ganharíamos na manhã do dia seguinte. Terminou puxando uma “NOITE FELIZ”, em homenagem ao MENINO JESUS que era o aniversariante, que todos nós acompanhamos alegremente.
Corremos depressa para nossas camas e nos cobrimos, para pegar no sono mais rápido. Eu, numa mesma cama com Waldyr, dispostos como “Valetes” (um virado para o lado da cabeceira e outro para o lado dos pés), o mesmos acontecendo com Walter e Waltencyr em outra cama. (Não havia ainda uma cama para cada um). Era uma farra, com um quase sufocando o outro com os pés, durante o sono e pesadelos.
Na manhã do dia 25, o que acordasse primeiro, acordaria o resto da casa, com suas exclamações de júbilo ao encontrar seus presentes. De um salto, pulei para o chão e quase derrubei o penico, que cheio de urina noturna, balançou mas não entornou. Lá estavam meus objetos de desejo. Uma reluzente maçã e uma caixinha de passas “Raysin”, que o MENINO JESUS mandara nos entregar pelo seu mensageiro, o Papai Noel.
Não acreditei: Uma maçã inteirinha e uma caixa de uvas secas somente para mim? Olhei para os lados e constatei a realidade daquele momento. Cada um de meus irmãos saia correndo para o quarto de papai e mamãe para mostrar a eles os nossos presentes, que radiantes nos abraçavam, conferindo em nossos brilhantes olhinhos, a felicidade ali estampada. Vi, então, escorrer dos olhos de papai, uma furtiva lágrima que ele tentava disfarçar passando a ponta da coberta, como que espantando o sono e se abaixando no bercinho da Ana Maria para pegá-la no colo, visto que acordara com aquela fuzarca.
Muito tempo depois, soube que naquele NATAL, Papai havia recebido por serviço extra que fizera na obra, por horas de “serão” , durante o ano todo e que lhe fora pago de uma só vez, dias antes do NATAL. Ele nunca havia conseguido economizar para aquela proeza. Sempre uma caixa de uvas secas deveria ser partilhada entre os filhos e duas maçãs, quando possível, seria descascada e repartida igualmente entre todos.
Esse NATAL de 1952 ficou marcado indelevelmente em meu coração, pela nossa FELICIDADE (de toda família) especialmente pela lágrima que teimava em escorrer nas faces de PAPAI ao ver nossa alegria, por “tão pouco” MUITO!
- “Dizem que a História não é como realmente acontece, MAS COMO NOS LEMBRAMOS DELA”