Antes Que Seja Tarde
- Vá para teu quarto! Amanha é natal, e você tem que dormir! – Gritou uma mulher para mim, sai andando, mas não lembrava aonde era o meu quarto, meu corpo foi praticamente automaticamente para lá, estava tudo tão deformado.
- Evan! Tu dormiu na garagem de novo! – Gritou uma voz ao meu ouvido, acordei e vi que realmente estava na garagem, dormi enquanto tentava terminar o meu projeto – Você não acha que está muito fixado neste tal projeto não? – Disse Mayra, que mesmo com este comentário, era a única pessoa que acreditava em mim.
- Você sabe que eu preciso muito disso – Eu disse para ela – O quão importante isto é – E fiquei quieto, eu realmente acreditava que eu estava quase terminando o projeto.
- O que aconteceu Evan? – Disse Mayra, depois de um longo silencio – O que aconteceu aquele dia, há 10 anos? – Acho que mesmo só tendo ela acreditando em mim, eu nunca contei a minha historia a ninguém.
- Naquele natal, há 10 anos, logo após de ter brigado com a minha mãe, quando acordei, ela estava morta no quarto dela – Eu disse, Mayra me olhou por um tempo, ate que olhou para baixo, mas ela não parecia surpresa – Não sinta pena, ou tristeza, ela morreu dormindo, exatamente como ela queria... E sabe? Eu nunca dei “feliz natal” a ela...
Mayra apenas continuou em silencio, lembrei que eu também nunca tinha desejado um “feliz natal” para ela, era véspera de natal, eu tinha que lembrar desta vez. E isto me fez lembrar que eu tinha que ir buscar minhas cartas! Meu pai não era um rapaz presente, mas me ajudava com as contas da casa, mesmo a distancia.
No caminho comecei a pensar em Mayra, na verdade eu não sabia como ela apareceu na minha vida, não lembrava, eu estava o tempo todo tão fixado em meu projeto, e também não sabia o porque ela acreditava tanto em mim. Então peguei minhas cartas, haviam varias cartas do meu pai, até que...
- Evan! – Gritou uma voz atrás de mim, distante – A sua maquina! Ela ligou! – Ao ouvir isto, eu voltei correndo para a minha casa, será que finalmente meu projeto tinha dado certo?
Chegando a minha casa, eu abri rapidamente a porta, só que a minha sala estava completamente diferente, cheia de enfeites, e uma arvore de natal ao canto da sala, exatamente como há 10 anos. No sofá havia uma garotinha sentada, que apenas me olhou assustada, eu não me lembrava dela, mesmo ela me sendo familiar.
- Vá para teu quarto! Amanha é natal, e você tem que dormir! – Eu ouvi vindo da cozinha, este grito era tão familiar para mim, pensei em ir a caminho da cozinha para ver a minha mãe mais uma vez, mas a frase dela não terminou ai – Por que você voltou para casa? Já lhe disse que você não pode ver teu filho! – A partir daquele momento, eu não podia fazer mais nada, nem dizer nada, não se pode interferir na historia, principalmente daquela que não faz parte da minha memória.
- Eu vim trazer a garota, tiraram ela de mim também, e eu não tenho familiares próximos para deixar ela – Disse a segunda voz, minha mãe resmungou algumas palavras, mas não deu para ouvir – Ela é sua filha também! Prometa-me que vai cuidar dela?
Neste momento, minha mãe foi a caminho da sala, mas não deu para eu sair, e nem para mim me esconder, ela já tinha me visto.
- Quem é você? O que estas fazendo aqui? – Disse minha mãe, eu tinha acabado de criar um buraco no tempo, uma falha na minha historia, se eu dissesse quem eu era, as coisas iriam piorar mais ainda.
- Só vim lhe desejar um feliz natal, e dizer que eu t... – Mas antes de terminar a frase, tudo começou a sumir na minha frente, a sala voltou à forma da minha sala no presente, a maquina que eu tinha criado, criava apenas um efeito temporário. Sentei no chão, e comecei a chorar, até que Mayra chegou ao meu lado.
- Você conseguiu – Disse Mayra – Você finalmente conseguiu – Mas eu ainda estava triste, eu não tinha terminado a minha frase, e tinha tantas coisas que eu ainda não sabia – Sabe o por que eu acreditei em você todo este tempo? Por que eu te vi conseguir, bem na minha frente, eu vi o seu projeto dando certo.
Então eu realmente tinha conseguido voltar ao passado, pelo menos por um instante, e Mayra era a garotinha sentada no sofá, isto me explicava tantas coisas...
- Obrigado por tudo, e feliz natal, irmã.