MEU NATAL

Querido Papai Noel, por muitos dias de dezembro eu pensei, pensei, tentando pedir algo que eu realmente quisesse, e que me fosse útil. Pensei em pedir brinquedos, mas lembrei de que eles vão quebrar, e daqui à uns anos, eles perderão o encanto, provavelmente com a chegada de um vídeo game. Pensei em pedir um vídeo game, mas sei que eles são substituíveis. Ano após ano, os japoneses, ou a galera que os inventa criam algo novo, de última geração, dão continuidade a uma franquia, que geram filas em lojas, nerds em polvorosa, e assim, no ano seguinte, aquilo tudo já tá velho, ultrapassado, e esses mesmo nerds apaixonados e aficionados se focam em outras novidades...

Aí pensei em te pedir roupas. Roupas legais, bacanas, com estampas divertidas, coloridas e chamativas. Mas assim como games, as roupas e a moda são de mudança constante. O que hoje é chique, amanhã será brega. Se hoje você usa essa blusa em gola V que te faz descolado, amanhã, essa mesma blusa vai te transformar num cantor sertanejo com uma péssima figurinista! Pensei em pedir discos, as músicas são eternas. Há músicas que nos fazem voltar a épocas importantes de nossas vidas. Quase pedi ao senhor por CDs com músicas importantes em minha vida. Mas lembrei que isso daria muito trabalho, e eu poderia, numa tarde de tédio, gravar um CD baixado inteiro da internet. Então, lá se vai a ideia de te pedir isso...

Pensei em pedir parentes que já se foram. Minha avó, meus tios, até meu priminho que morreu aos dois anos de dengue. Mas com o aumento da crença de que ZUMBIS podem dominar o mundo, resolvi repensar. Não quero que esses meus entes queridos sejam caçados por aí por malucos com foices, machados, ou pistolas, mirando bem no meio de suas testas. O senhor, como é um senhor bem relacionado, até poderia mexer alguns pauzinhos, falar com as influências, e fazer com que todo mundo de fato, aceitasse eles de volta, como se nunca tivessem morrido, porém, acho que isso seria trabalhoso e desgastante, e ainda há outras pessoas por aí, para que o senhor presenteie.

Foi então que parei por dois dias de pensar no que te pedir, Papai Noel. Durante dois longos dias, apenas observei as coisas e as pessoas ao meu redor. Cada detalhe, cada atitude. Fui ao shopping e lá, também observei as famílias. Crianças com seus pais, olhando maravilhados para eles e para os enfeites daqueles lugares grandiosos e tudo ao som de músicas natalinas na rádio do shopping. Foi então que aquela luzinha da ideia se acendeu. Olhando aquelas famílias, aquelas mães, pais, avós... Aquilo tudo me mostrou que eu já tinha tudo o que eu precisava, Noel. Tenho uma família, tenho pessoas que quero ao meu lado acima de tudo. Pessoas que tornam datas, lugares e dias cada dia mais especiais. Que estão ao meu lado pelo que eu sou, e não só pelo que eu tenho (que já não é muito). Há muitos anos deixei de acreditar em você, mas hoje, vinte anos depois, aos vinte e seis anos, eu resgato essa fé. Quero te pedir, do fundo do meu coração, que mantenha essas pessoas ao meu lado. Que elas só saiam de perto quando necessário, e que presenciem todos os momentos de alegria, tristezas (quando necessário) e dúvidas. Nesse natal não quero carrinhos, roupas bacanas, games divertidos ou perfumes. Nesse natal, eu quero aquilo que sempre tive. Quero amor, paz... Quero que o senhor traga paz à minha família, aos meus próximos, amigos, e que assim se permaneça por cada natal que há de vir. Que daqui, com esse lápis nas mãos, todos os anos, eu renovarei apenas esses pedidos, que eu devia ter feito há muitos anos, mas que deixei que a fé fosse embora.

Então é isso Noel. Espero que suas renas passem por aqui, e ao ouvir sua risada inconfundível no meio da madrugada, eu saiba que minha família, meu amor, meus amigos estarão protegidos por sua força e poder, debaixo da árvore de natal, e em seus corações. Muito obrigado desde já! Um grande abraço! E claro, um feliz natal!