NOITE DE NATAL

NOITE DE NATAL

Wilton Porto

Naquela noite, Francisco de Assis levou a população para a tenda armada por ele. Lá tinha uma manjedoura, vários tipos de arranjos, animais e uma iluminação a caráter. A manjedoura estava vazia. A população, admirada, sabia que Francisco iria comemorar o Natal de uma forma nunca visto por eles. O silêncio reinava. Todos mantinham a certeza de que aconteceria algo jamais visto. Francisco andava assombrando a todos com o poder da religiosidade. Já era admirado e muitos o seguiam.

Francisco entrou em estado de oração. De repente, os sinos começaram a tocar os seus acordes. Francisco aproximou-se da manjedoura vazia e ajoelhou-se ao seu lado. Os que ali estavam, voltaram-se para o jovem arrebatado. Não se demorou e Francisco começou a sorrir e a conversar com alguém que estava dentro da manjedoura. A população presente achegou-se alvoroçada: alguma coisa especial estava havendo.

Inacreditável! – Francisco de Assis estava vendo o Menino Jesus e conversava com Ele. Não foram poucos os que enxergaram a Criança toda banhada em Luz. Como se o Espírito Santo tivesse descido naquele local, todos se ajoelharam, iniciaram a orar e contemplar aquela noite como se fosse uma noite de milagre: Jesus em pessoa viera nascer naquele meio. E Francisco que já era tido como um verdadeiro homem de Deus, naquela noite o povo presente o aproximou ainda mais da santidade.

Eu estava iniciando a minha vida como religioso leigo engajado, quando li sobre esse fato. Imaginem a minha felicidade! Eu tinha um amor incondicional pela forma como São Francisco de Assis pregava, agia, vivia, se entregava a Jesus e aos Evangelhos. Tornei-me um cristão de carteirinha dourada. Parecia que eu havia sido padre em alguma época desconhecida, pois eu tinha facilidade de interpretar os Evangelhos. Passei a desenvolver trabalhos em todas as paróquias de Parnaíba e fazia uma média de sete palestras religiosas por semana.

Era pouco para mim. Comecei a fazer missões pelo interior do Maranhão. Para que não me interpretem de convencido, não contarei muitos fatos que me aconteceram durante essas missões, que muitos poderiam dizer serem milagres. Assim, toda Noite de Natal tem-me um sabor especial. Fico realmente contrito e afasto-me para orar. E, quando eu me lembro de que Cristo veio a este mundo para nos ensinar que a matéria é um meio e não um fim, e percebo a louca corrida do homem para agarrar-se ao ter e não ao ser. Digo para os meus botões: o homem ainda tem muito que aprender. E para isso, terá que passar por muitas dores não entendidas.