FESTA DE NATAL IMPROVISADA
Era véspera de Natal de 1975 e resolvemos fazer uma reunião. Foi na casa de minha sobrinha Alzira. Ela possuía dois filhos pequenos, André e Ana Rita.
Minha cunhada Aurora fez a roupa do Papai Noel. Pediu para o Doro, meu marido, que era obeso e de avantajado abdômen para ser o Papai Noel naquela noite. Juntamos as famílias e cada um levou uma comida para a ceia do Natal. Meu sobrinho Reinaldo possuía um fordeco 1929 conversível, com o famoso banco da sogra, apelidado de ximbica. Naquela tarde, ele passou na casa de cada membro da família para recolher os presentes para as crianças que eram várias.
Às 21 horas o Reinaldo veio buscar o Papai Noel com a ximbica. Meu marido comprou muitos bombons, pacotinhos de balas e saíram com ximbica pelas ruas do Butantã, distribuindo doces para a criançada que estavam na rua. As crianças perguntavam pelo presente e ele sempre dizia:
- Papai Noel vai buscar.
Depois disso, eles voltaram para a casa da Alzira, onde todos esperavam, com muita ansiedade, o Papai Noel.
Foi uma chegada triunfante: Carro buzinando, Papai Noel tocando o sino. As crianças batiam palmas e gritavam:
- Viva o Papai Noel!!!
Começou a juntar muita gente, principalmente, a criançada da vizinhança. O Papai Noel entrou em casa e as crianças em volta dele, perguntavam:
- Trouxe nosso presente?
- Sim, respondeu ele. Vou tomar um pouco de água e descansar um pouco e já volto.
Em seguida começou a distribuir os presentes. Algumas crianças ganhavam vários presentes dados pelos familiares: pais, tios e avós.
Papai Noel começou a perceber que algumas crianças não tinham presentes. Eram crianças da rua que entraram na casa. Cada vez que ele tirava um brinquedo do saco, as crianças erguiam as mãos pensando que era para elas.
Papai Noel parou um pouco e disse para elas:
- Eu vou descansar um pouco e comer alguma coisa, porque estou com muita fome.
Chamou-me num canto e disse:
- O que eu faço com essas crianças que estão esperando o presente?
- Dá um tempo que vou dar um jeito, disse a ele.
Chamei meu irmão Leonel, pedi para ele ir comigo no Super Mercado que havia lá Rua Alvarenga. Quando chegamos, o supermercado estava fechando, só o gerente e um funcionário estavam lá. Pedi para que ele me vendesse algum brinquedo e ele me respondeu:
- Não posso, os caixas estão fechados e os funcionários já foram embora e eu também tenho que me reunir com meus familiares.
Peguei na mão do gerente e disse:
- Feliz Natal para o senhor e toda a sua família, mas, por favor, não estraga uma noite de Natal para muitas crianças que esperam com muita ansiedade um presente do Papai Noel esta noite.
O gerente baixou a cabeça, esperou um pouco e disse:
- Entre e pega o que a senhora precisar.
Corri em direção às prateleiras de brinquedos que tinham sobrado. Quis pagar, mas ele respondeu:
- Já anotei o que a senhora está levando, volta outro dia para me pagar.
Apertei a mão do gerente e disse:
- Deus lhe pague, o senhor vai fazer muitas crianças felizes esta noite.
Voltamos para a casa da Alzira e depositei os presentes no saco mesmo sem embrulhar e sem o nome das crianças, afinal eu também não sabia o nome delas, não os conhecia.
Papai Noel foi tirando os presentes e distribuindo às crianças aqueles brinquedos humildes que elas esperavam com tanta ansiedade. Foi uma alegria tão grande, não pelo valor do presente, mas por ter recebido do Papai Noel na Noite de Natal.
Foi uma felicidade que não acontece sempre para nós, eu e meu marido. Fomos protagonistas de muita alegria para aquelas crianças.
Autora: Margarida Bronzato Parrillo