NOITE DE NATAL COMOVENTE

Era o Natal de 1997. A minha família estava reunida na minha chácara em Caucaia do Alto. Meu neto, Vinicius, estava com três anos de idade e ansiosamente esperava pela visita do Papai Noel. Meu genro, Silvio, tinha trazido a fantasia e o “saco”, aonde, todos que chegavam, nele colocavam os presentes. Todos trabalhavam para a ceia. O peru estava assando para ser consumido quentinho, a maionese caseira estava pronta no refrigerador, mas o que não falta nunca numa cerimônia dessas é a salada de batatinhas, pouco maiores que uma bolinha de gude que são cozidas com a casca e depois depiladas e a famosa farofa de galinha desfiada que só minha Mãe sabia fazer. (Que Saudade!!!)

Meia noite se aproximava, meu genro vestiu a fantasia, pegou o “saco” de presentes e sorrateiramente foi para a rua enquanto o Vinicius era distraído.

Quanta festa, quanta alegria quando o Papai Noel apontou no portão. O Papai Noel entrou sorrindo com o famoso “HOHOHO”.

- Bem vindo, Papai Noel, nós já estávamos preocupados com a sua demora.

- Mas eu estou aqui, jamais deixaria de visitar esta família, principalmente o Vinicius.

O Papai Noel abriu o “saco” e começou a distribuir os presentes. Quando terminou me chamou e perguntou-me se havia crianças que moravam por perto.

- Perto daqui só existem três que moram num barraco.

- Então vamos até lá que eu trouxe alguns presentes para dar às crianças pobres.

O barraco era muito pobre, a porta não possuía trinco, por dentro era fechada com a tara mela e por fora um fino pedaço de corda que vinha de dentro, passava por um largo buraco e era amarrado num prego. Estava todo apagado.

O Papai Noel bateu na porta, ninguém respondeu. Bateu outra vez e aí uma luz acendeu, perguntando:

- Quem é?

Olhei pelo buraco e vi três crianças assustadas, ao mesmo tempo em que meu genro dizia:

- É o Papai Noel!!!

O semblante das crianças mudou de assustadas para felizes.

- Abra a porta, o Papai Noel quer cumprimentá-los.

A porta se abriu e as crianças correram para abraçar o Papai Noel e foram calorosamente abraçadas também e aí o Papai Noel distribuiu alguns presentes.

- Onde está a mãe de vocês? Perguntou o Papai Noel.

- Nossa mãe foi trabalhar.

- E seu pai?

- Ele foi embora, largou a nós e nossa mãe.

- Mas o Papai Noel não abandonou vocês. Eu vim, estou visitando todas as crianças.

Enquanto meu genro conversava com as crianças, notei que não havia comida naquele barraco, então fui até minha casa e fiz uma travessa grande com peru, maionese, farofa, batatinhas, refrigerantes, enfim, o que tínhamos preparado para nossa ceia e levei para as crianças. O brilho nos olhos das crianças foi muito comovente quando viram o guaraná e a travessa com a comida. Fiz a mesa e o Papai Noel bebeu guaraná e beliscou alguma coisa junto com as crianças que não escondiam a alegria de estar com o Bom Noel e um pouco de comida. Saímos comovidos e felizes, fizemos também a ceia para três crianças.

- Vocês não abram a porta para mais ninguém até que a mãe de vocês volte do trabalho. Estamos combinados? Agora eu preciso ir para visitar outras crianças. Deem-me um beijo.

Meu genro tirou a fantasia e esperou um pouco para voltar para casa.

Quando ele voltou, o Vinicius perguntou:

- Pai onde o senhor esteve? O Papai Noel já veio e o senhor não estava.

- Eu fui esperar o Papai Noel lá na esquina, para lhe ensinar o caminho. Então ele me driblou. Eu vi que ele estava demorando e achei que tinha errado o caminho.

- Não errou não. Pai, ele veio, veja o presente que ele me trouxe. Ele deixou também um presente para o senhor. Todos nós ganhamos presentes.

- Então filho, vamos brindar a vinda do Papai Noel.

“Estouramos” um champanhe e ceamos. Depois meu genro e meu neto sentaram na varanda e conversaram muito tempo sobre a visita do Papai Noel.

Eu, comovida, pensava: “Quantas crianças neste momento estão felizes brincando com seus presentes e quantas crianças sem presentes e sem comida desconhecem a data do Natal”.

Deus, por que toda essa diferença social?

Autora: Margarida Bronzato Parrillo. Jundiaí - SP

MARGARIDA BRONZATO PARRILLO
Enviado por SANTO BRONZATO em 15/11/2012
Reeditado em 08/09/2013
Código do texto: T3987638
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