Natais

Quando chega esta época do ano, sempre lembro, com saudades, dos Natais de minha infância. Não é um saudosismo tolo, mas uma saudade quente, cheia de magia. Sentia-me feliz ao imaginar o presente que ganharia... Naquele tempo presentes eram dados às crianças apenas no Natal e no aniversário, assim, eram esperados com muita excitação. Meu irmão e eu fazíamos uma "varredura" completa pela casa, até encontrarmos nossos tão cobiçados presentes. Não os tocávamos, apenas queríamos ter a certeza de que estavam lá. Acho que nossos pais nunca souberam dessas nossas aventuras pela casa. Apesar de sabermos da inexistência de Papai Noel, cultuávamos sua mágica, sem quebrar nosso próprio encantamento. Coisas que só as crianças sabem fazer.

Apesar de minha família não ser religiosa, participávamos de um almoço de Natal, geralmente na casa de minha avó materna. Minha prima, meu irmão e eu preparávamos, todos os anos, uma apresentação a ser realizada nesse dia. Ela nos tomava muito tempo, pois era minuciosamente planejada por nós. Primeiramente, nos ocupávamos da elaboração dos convites a serem distribuídos aos familiares. Desenhávamos, pintávamos, bolávamos o texto. Ficávamos ocupados por horas nesse trabalho artístico. Depois vinham os ensaios de nossa apresentação: às vezes uma dramatização de tema natalino, que chamávamos de "teatrinho", outras vezes um jogral. Era tudo muito divertido, mas levávamos a sério. Os adultos riam e aplaudiam e nós nos sentíamos importantes, glorificados. Depois vinham os presentes. Cada um recebia o seu com admiração, fingindo surpresa...Não eram muitos, mas eram recebidos com carinho e entusiasmo.

Dos quitutes de Natal não me lembro bem. Não eram importantes para crianças que queriam brincar. Mas o momento, esse sim, era importante. Lembro-me de meu avô tirando som dos copos e fascinando os netos com sua habilidade e alegria. As pessoas todas riam e se divertiam muito, especialmente depois do almoço, quando o tio Zezinho tirava um cochilo no sofá e roncava sonoramente. Todos se faziam mudos e riam baixinho a cada novo ronco acompanhado de um assobio. Era muito divertido. Nós nos entretínhamos com conversas e brincadeiras animadas, às vezes com algumas discussões, normais entre uma família de descendência italiana. Eram momentos muito felizes e a TV permanecia desligada. Bastávamo-nos!