Trezentas e Sessenta e Quatro Vésperas de Amor.

Onde estavam as luzes e as comidas e as canções quando eu precisava delas naqueles 364 dias? Ou os presentes e a família e os amigos dizendo que me amam nos meus SMSs, telefones e redes socias.

Hoje vejo a mesma boca que ofendeu durante o ano todo, cantando músicas cristãs que falam de amor e paz. E a mesma mão que agrediu o próprio irmão, seja consanguíneo ou não, dando presentes pra criancinhas pobres. Milhões de perdões, só para que o ano que vem possa ser palco para mágoas novas. E reconciliações pra depois poder separar denovo. O "amigo invisível" que foi posto em prática no seu sentido mais literal possível durante todo o ano servindo de nome pra brincadeiras onde pessoas trocam presentes.Tudo tão excepcionalmente paradoxo! Desculpa, mas eu não me contento. Esse teatro desnecessário me dá ânsia e é por isso que eu vomito esse texto aqui. Palmas pra vocês, que sustentam essa mentira tão confortável ano após ano, e de geração em geração. Só que prefiro comemorar quarta-feiras bebendo cerveja no sofá da minha sala depois de um dia cansativo de trabalho à isso. É o que as boas almas do dia 25 não suportam. Elas vestem suas roupas novas que foram parceladas em todas as vezes em algum boleto de alguma loja de departamentos e abrem seus melhores sorrisos. Estouram seus cartões e seu colesterol. Se abraçam e se beijam e sorriem e morrem e continuam com um coração batendo dentro do peito. Achando que hoje realmente é "um novo dia de um novo tempo que começou". Acreditando que um ano escuro se compensa com um dezembro iluminado na avenida Paulista.

Mas me diz, e os outros 364 dias?

nes_ste
Enviado por nes_ste em 23/12/2011
Reeditado em 15/03/2012
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