Minha crise de Natal
            Onde trabalho é costume celebrar as datas maiores do cristianismo. A Fundação tem raízes católicas e zela por mantê-las. A posição que ocupo supõe a minha presença. “Noblesse oblige”. Compareço a essas celebrações por respeito aos padres e como sinal de comunhão com os funcionários. Entretanto, confesso que me sinto como um estranho no ninho e não me sinto nada bem. Percebo que por formação ou falta dela, tenho uma outra expressão de espiritualidade radicalmente diversa da teologia vigente ou mesmo contrária.
            O que pensar de uma celebração na qual a comunidade eclesial parece estar centrada sobre si mesma e na qual o mundo exterior não existe? Como conceber a missão restrita ao religioso e a própria religião reduzida à sua dimensão de devoção? Sinceramente sofro ao sentir que a religião é manifestada só como sentimento e não como compromisso de vida e é reduzida a uma dimensão devocional quase supersticiosa e meramente sentimentalista. Respeito e aprecio o sentimento (quem me conhece sabe disso), mas tenho alergia ao sentimentalismo. E não há teologia alguma por trás das palavras, a não ser uma espécie de doutrina meio infantil e meio mágica (que me perdoem os mágicos profissionais se a comparação foi indevida).
            Cristo! Será errado pensar que o povo tem o direito de receber o alimento da fé de modo mais denso, adulto e crítico? O que significa a celebração do Natal num contexto no qual as igrejas e empresas de propaganda comercial competem entre si disputando quem será mais superficial e banal?!
            “Vem, ó filho de Maria,
            Vem do céu sabedoria,
            Quanta sede,
            Quanta espera,
            Quando chega,
            Quando chega aquele dia?”
Feliz Natal!