Enfeites & Embrulhos
[Crônica publicada no caderno Mulher Interativa do Jornal Agora - Rio Grande/RS]
Mais um último mês se inicia. E com ele as mesmas funções de sempre ganham novos ares de urgência e seriedade. O velho "o que comprar para quem" está de volta, somando novos "quens" e gastos – de ideias, de tempo, de finanças, de paciência – a "tentativa obrigatória" de alimentar um guloso espírito natalino que, a cada ano, parece mais fraco – não por falta de quem lhe supra as vontades, mas de substância nelas.
Todos os anos, ele pode ser visto a vagar pelas ruas cheias e conversas vazias. Ele aparece tal qual um obeso Papai Noel sem fôlego para carregar o próprio saco – cada um deveria ser capaz de carregar o próprio fardo, e sem o auxílio de animais escravizados em trenós voadores! O espírito natalino é muito alimentado, porém, mal-nutrido.
E se pudéssemos dar e pedir coisas que não se pode vender ou comprar? Tudo seria diferente – não mais fácil ou barato, mas mais saudável. Se os pedidos fossem feitos de sonhos, de sentimentos, de crenças, o velho que representa esta época do ano teria outra aparência – talvez sem o famoso saco ou a barba branca... Talvez nem fosse velho ou nem mais existisse. As lojas estariam vazias e as pessoas, cheias, no bom sentido, e não o contrário.
Quando fazemos listas, corremos às lojas, esvaziamos os bolsos e lotamos nossa árvore falsa com enfeites e embrulhos toscos, muitas vezes esquecemos que tão valoroso quanto o conteúdo é o pacote que o guarda. É ele quem o apresenta, quem o introduz e causa a tão importante primeira impressão – um pacote que guarda um presente é, na verdade, uma promessa, um sonho, uma esperança, um futuro: o tempo que ainda não veio, que está eternamente prestes a ser, mas que nunca de fato acontece, pois aquilo que acontece chamamos de "presente".
Dessa forma, o futuro é o embrulho de um presente, e o presente, por sua vez, um embrulho rompido, um futuro irrompido! Pouco antes de nascer, somos um futuro guardado no ventre de outra vida. E na barriga de cada mulher que espera está o embrulho de um novo presente que, antes, precisa romper a barreira que o separa de seu futuro, para, enfim, ser – e poderia estar aí uma bela explicação para todo o simbolismo natalino, mas, infelizmente, não está.
Bom seria se pudéssemos cobrir os pés da árvore sem raízes que nos planta o Natal em casa com pequenas caixas de futuros: aqueles que sonhamos àqueles que amamos. E que eles, ao abrir os seus, assim como nós, ao abrirmos os nossos, recebessem o melhor e mais real de todos os presentes - o de ser feliz hoje e em tantos novos “hojes” o quanto permitissem os pacotes recebidos – e merecidos!
"Que cada dia seja uma riqueza vinda num belo embrulho a se romper" - eis o que diria sobre os meus pacotes - sob um largo e vermelho laço de fita.