A figura de São Nicolau é cercada de histórias que oscilam entre a lenda e o verossímil. Difícil distinguir entre o lendário e o verdadeiro. O que resta de consistente é que se trata de uma pessoa de extrema bondade.
            São Nicolau é do século IV da era cristã. Nasceu em Mira, na Turquia, de pais muito cristãos e muito ricos. Em plena juventude foi ordenado sacerdote e não demorou muito para que se tornasse bispo da mesma cidade de Mira.
            Quer como padre, quer como bispo, a bondade sempre marcou sua vida. Sendo filho único, quando lhe morreram os pais, foi beneficiado com grande e farta herança. Imediatamente repartiu tudo com os pobres de sua comunidade.
            Sua biografia é cercada de benemerências. Muito se escreveu sobre ele. Vou relatar um fato que se presta à finalidade deste artigo.
            Uma família rica sofreu desastres financeiros, vindo a cair em completa miséria, a ponto de faltar comida em casa. O prolongamento da penúria levou o pai dessa família ao desespero. Na aflição, ensandecido, decidiu encaminhar suas três filhas, jovens atraentes, para a prostituição, como meio de ganhar a vida. Seriam enviadas para Atenas, na Grécia, um centro urbano desde aquela época bastante propício para o triste objetivo.
            O Bispo Nicolau veio a saber disso. Por três noites seguidas, escondidamente, colocou na casa das três jovens vultosas quantias de dinheiro, que servissem de dote para as mesmas. Assim socorrida a família, caiu por terra o projeto da prostituição das meninas que, mais tarde, vieram a se casar honestamente.
            Este o fato. Um só, de muitos.
            A saga de São Nicolau, com o correr do tempo e sob forte influência ocidental, travestiu-se de Papai-Noel, o velhinho de barbas e cabelos brancos, vestido de vermelho, gorro e botas, com um saco de presentes às costas.
            Na Alemanha permanece o nome de Nikolaus. Nos países anglo-saxões a denominação é Santa Claus. Na maior parte do mundo, como aqui, a propaganda instalou o Papai-Noel. Mas as raízes dessa tradição prende-se à figura cristã do Bispo São Nicolau.
            A versão Papai-Noel nada tem de cristã. Ao contrário, desvia as atenções do significado cristão do Natal. Pergunte a qualquer criança o que ela espera no próximo Natal e ela responderá que está esperando o Papai-Noel. E os presentes.
            Na minha infância, nós, crianças montávamos nosso presépio em casa, sobre um estrado feito por nosso avô materno. Na noite-véspera mal dormíamos, para procurar, no amanhecer, nossos presentes (os únicos do ano) junto à imagem do Menino Jesus colocada sobre o berço na gruta.
            Hoje sou pai. Quando meu filho atingiu a idade da razão eu lhe disse:
-O Natal está chegando. Você deve ir procurar um amiguinho de família mais pobre que a nossa. No dia de Natal você irá à casa dele, baterá, pedirá licença para entrar. Cumprimentará cada pessoa da casa do seu amigo e entregará um presente ao seu amigo escolhido, dizendo-lhe que faz isso em nome do Menino Jesus. E será esse o presente de Natal.
Como sou grato ao meu avô paterno, libanês mascate, que ensinou a fazer assim. Espero que o meu filho mantenha, no tempo oportuno, esse costume maronita.
No Natal, cada um fica pensando no que quer e vai ganhar. Por que não pensar no que vai dar e a quem vai dar? O Natal é a festa da generosidade cordial. O coração tem mais ternura e a mão é capaz de se abrir. Afinal, Natal é a recordação da generosidade de Deus em nossa direção.
Não custa lembrar que o Natal é uma festa de aniversário. Aniversário de uma das crianças mais pobres que nasceram neste mundo. Que se chama Jesus Cristo.
O Natal oferece dois caminhos: de um lado, o Papai Noel e de outro o Menino Jesus
A escolha cada um é que faz.