Preparemo-nos, Ele vem!
Preparemo-nos, Ele vem!
“Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas” (Mt 3,3).
Zilmar Augusto Moreira de Oliveira
O natal já está se aproximando. Em todos os cantos e lugares vemos pessoas enfeitando suas casas, comércios e ruas. É tempo de dar uma “nova cara” a tudo e todos. As casas que já estão com suas pinturas desbotadas ganham uma nova cor e decorações natalinas. Para onde olhamos, enxergamos o tão sobressaído Papai Noel. É bom também lembrarmos que nestes dias de festas de fim de ano, ninguém gosta de usar roupas “velhas”. Logo, acorrem às lojas e butiques à procura de vestes que lhes sirvam para passar essa noite especial. Quem muito se agrada com essa temporada são os comerciantes. Pois, com tantos se preocupando com as compras cresce o rendimento e os lucros. É um “ótimo” espírito consumista que é gerado mais fortemente nesse período.
Para celebrarem essa “especial data” enfeitam-se com tantas joias, calçam o melhor sapato, usam do melhor perfume, trajam a melhor veste... Para a ceia, não poupam suas economias. O peru não pode faltar. A mesa posta demonstra toda a fartura. As coisas ficam bonitas? Sim. Sem dúvidas. Todos ficam bonitos e bem vestidos. Porém, preocupam-se tanto com os penduricalhos que se esquecem de algo que é muito mais importante: Celebrar a festa do Menino Jesus! Acabamos por pensar que a festa do natal gera-se em torno do consumismo. Preocupamo-nos com muitos detalhes. Achamos que tudo está perfeito, e, esquecemos do detalhe principal. O sentido da celebração do Natal consiste em celebrar o nascimento de um bebê, e, não de um velho barbudo apresentado pelas forças do consumismo. Celebrar o Natal é acolher um bebê que traz amor, paz, simplicidade e unidade e, não um velho que nos traz gastos, prejuízos e divisões.
Quando vão se aproximando as festas de fim de ano, já começamos a imaginar o que vamos fazer, onde vamos passar a noite de natal e ano novo, qual roupa vestir, como vamos arrumar a casa... Muitos são os planejamentos. Pensamos em tudo, em todos os detalhes. Preparamos acomodações, presentes, acolhidas, refeições. O exterior está tudo muito bem organizado. Porém, também nos esquecemos de preparar o que é interior. Precisamos preparar os nossos sentimentos, a nossa vida interior. Da mesma forma que preparamos o que é externo, devemos também preparar interno. Da mesma maneira que lavamos nossas casas, fazemos faxinas, necessitamos também de lavar e fazer uma boa limpeza em nosso coração. Temos de jogar no lixo todos os sentimentos ruins de desentendimentos, intrigas, perturbações... É esse, um tempo especial, propício para preparação; para pôr em ordem tudo o que está desorganizado, perdido, sem rumo ou direção. Como cristãos, mergulhamo-nos na preparação, pois queremos acolher o Filho de Deus. Também o anjo Gabriel foi enviado por Deus para preparar o coração materno de Maria para colher o Salvador (Lc 1,26-38). Para essa preparação, a Igreja nos propõe celebrar as quatro semanas do advento. Tempo forte de preparação.
O tempo do Advento é um período de profunda e intensa preparação. Advento quer dizer chegada. Ansiosamente esperamos a chegada, o nascimento do Menino Jesus. Envolvidos pela alegre expectativa, preparamo-nos interiormente. É um tempo privilegiado e sagrado. Somos convidados a lavarmos as vestes e organizar ou limpar os enfeites do nosso coração: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas” (Mt 3,3). Junto com o profeta, cabe-nos a preparação. Para acolher o menino que vem, é preciso mudança radical de vida. Pois, esperamos aquele que vem para mudar a relação entre os homens; vem para estabelecer uma cultura de paz; vem para confundir os ricos e maus; vem para governar a terra, enfim, vem para iniciar uma nova história de vida e libertação. Mas, o advento de Jesus só acontece de fato, quando nos preparamos e acreditamos na força da vida que uma Criança pode nos oferecer. É preciso deixar de lado todo o nosso egoísmo e comodismo. Precisamos abandonar nossa antiga maneira de ver e viver a vida. Queremos endireitar nossa vida e dar um rumo certo. Com Maria, nós geramos o nosso Salvador. Do mesmo modo que uma mulher grávida se prepara para a data do nascimento de seu filho, cuidando de tudo para bem recebê-lo, nós também devemos nos preparar. E não de qualquer jeito, mas com nossos olhos firmes e vigilantes. Afinal, não sabemos o dia e nem a hora que Ele virá nos visitar ou armar sua tenda entre nós.
Para celebrar a festa do Natal temos de estar com os olhos voltados às necessidades dos que nos cercam. Como poderemos celebrar o Natal, festa da vida nova, vida de um bebê, se perto de nós existem inúmeras pessoas sofrendo a morte em suas vidas? Como cearemos sossegados, enquanto milhares morrem de fome a cada ano, e também nesta noite especial? Celebrar o Natal é celebrar a festa do Deus-Menino que veio mudar a nossa vida. Não podemos ficar de braços cruzados, enquanto muitos se fartam. Com braços fortes, podemos lutar para que, pelo menos nesse dia, essas pessoas tenham o que comer. Já não aguentamos mais ver pessoas a mendigar um pedaço de pão. Diante da triste realidade que nos cerca, vivemos a imensa utopia. Num mundo onde reina a guerra, sonhamos a paz; num mundo de miséria, sonhamos o necessário, o indispensável; num mundo extremamente egoísta, sonhamos a partilha; num mundo completamente opressor, sonhamos a libertação; num mundo afetado pela doença, sonhamos a saúde; num mundo chagado pelo aguilhão da morte, sonhamos a vitória da vida; num mundo meramente excluso, sonhamos a acolhida; num mundo manchado pelo preconceito, sonhamos o respeito. E é, dessa forma, que vamos vivendo... Sonhamos com a Belém do Filho de Deus. Choramos, bradamos, lutamos, protestamos... Mas, guardamos em nossos corações a verdadeira esperança: esperança de ver raiar uma cidade nova, um mundo novo e uma nova terra (Ap 21, 1-7). Contagiados pela forte utopia, “vamos a Belém ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou” (Lc 2,15). O texto que segue, relata como será o mundo após achegada daquele que tanto esperamos: o Menino das Palhas.
Alegrai-vos comigo irmãos,
Pois vem vindo o Senhor, Rei da Glória.
Alegrai-vos comigo irmãos,
Ele vem pra mudar nossa história.
As cidades serão embaladas,
Pelo forte amor de Jesus;
Que não quer ver seu povo acanhado,
Mas caminhando, seguindo a luz.
Os funestos caminhos da morte,
Que nos rouba a alegria e a paz;
O Senhor que é o caminho da vida,
Nos convida à vida sem par.
O mais forte que fere o inocente,
Com a simples ganância de ter;
Nosso Deus fica ao lado das gentes,
Que a vida só querem viver.
O egoísmo do rico insensato,
Que o pão não reparte co’irmão;
Jesus Cristo, irmão feito alimento,
É sinal de amor, comunhão.
Nos jardins vão brotar igualdade,
Com perfume de luz e amor;
Cantará a nossa mocidade:
“Nascerá o nosso Salvador!”
É no embalo dessas letras, que sonhamos a cidade perfeita. Esperançosos e alegres vislumbramos uma cidade repleta de igualdade, vida plena, paz, comunhão... Não pedimos muitas coisas, mas, que todos tenham, pelo menos, o mínimo necessário para viver dignamente. Não queremos muito. “Não precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobres nem ricos!” (Discurso de Mariama, Dom Helder Câmara) Com Maria, a Mãe da Graça, aquela na qual O Poderoso operou maravilhas, nós entoamos o cântico novo, o cântico da libertação. Nada de sofrimento, cantemos: alegrai-vos! Ele vem pra mudar nossa história!
O tempo do Natal nos proporciona momentos maravilhosos que passamos em família. É justamente neste período que as famílias se visitam. Aquela senhorinha, já de idade avançada, consegue, na Noite Santa, reunir toda a sua família: filhos, netos, tataranetos, irmãos, sobrinhos... Enfim, consegue reunir pessoas que há tempos não se encontrava. Fartar a mesa para saborear esse momento de união é algo maravilhoso! Não há nada mais belo que presenciarmos as famílias unidas, celebrando a Ceia do Natal. Momento rico é esse! Pois, também o Menino que vai nascer nesta noite, possui uma família. E que família! Neste espaço, experimentamos do amor que o recém-nascido nos traz; um amor incomparável; um amor materno-paterno: um amor familiar. É esse amor, que os une nessa alegria. Provamos, antes de tudo, da alegria da vida nova (Lc 2,1-20) e, depois, da alegria do reencontro (Lc 2,41-52). É bonito vermos as famílias brincando, unidas, se confraternizando. Percebemos o verdadeiro espírito do natal, festa que é completa quando compreendemos o seu real significado.
Que neste Natal, possamos abrir-nos inteiramente para acolher no celeiro dos nossos corações, na manjedoura de nossas famílias e no seio de nossas comunidades e cidades, o Menino Jesus que vem até nós, para morar conosco. Abramos, pois, as portas de nossas moradas e deixemos que ele viva em nosso meio. Nesse Natal, não vamos ficar imóveis aos verdadeiros valores. Vamos, pois, reunir nossas famílias, e, com um cordial espírito de comunhão demo-nos as mãos e agradeçamos a Deus. De corações unidos celebremos o amor familiar. Unamos nossas vozes e cantemos com a multidão dos Arcanjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).
Oração da Família na Noite de Natal
Ó Deus, diante do presépio de teu Filho Jesus, nós estamos reunidos com nossas famílias. Neste natal, queremos acolher teu Divino Menino, que vem para morar em nossas casas, com nossas famílias semeando a paz e bem. Nesta Noite Santa, que resplandeça em nós a força contagiante da alegria da Sagrada Família de Nazaré, afastando de nossas vidas a dor, o ódio e a perseguição.
Ó Pai de Amor, muitas coisas sonhamos neste tempo. Sonhamos com a alegre chegada de teu Bento Filho. É Nele que está firme a nossa esperança. Já não mais aguentamos viver a opressão e o medo. Queremos que nossas famílias gozem da vida do teu Reino.
Num mundo onde reina a guerra, sonhamos ansiosamente a paz; num mundo extremamente egoísta, sonhamos a força da partilha; num mundo de miséria, sonhamos o necessário, o indispensável; num mundo agitado pela opressão, sonhamos a libertação; num mundo afetado por inúmeras doenças, sonhamos a saúde; num mundo chagado pelo aguilhão da morte, sonhamos a vitória da vida; num mundo meramente excluso, sonhamos o abraço, a acolhida; num mundo manchado pelo preconceito, sonhamos o respeito.
Mãe Maria, é dessa forma que sonhamos. Que o nascimento do Menino do Teu Ventre, nos traga um mundo novo. Que um olhar de luz brilhe para nós. Que ele tenha apenas um palmo de terra para armar sua tenda entre nós e, manifestar-nos sua Belém de paz, justiça, amor e alegria. Amém.
Sagrada Família de Nazaré,
Protegei minha família e guia-a no amor e na fé!