Atividades do Natal
            Lá em Gonçalves, bairro dos Venâncios e São Sebastião, o povinho tão amado está preparado para o evento da natividade do Senhor. Aprenderam com missionários Redentoristas a elaborar todo um programa de novenas que são feitas de casa em casa. Sou de opinião que a pastoral  feita na intimidade do lar, com a família toda ao redor da mesa, tem um poder de unção muito maior que as homilias e práticas realizadas na igreja para uma comunidade que nunca deixa de ser heterogênea.
            No dia 24 de dezembro, quando forem 23 horas, uma jovem vestida a caráter, montará ( como as donzelas o faziam) um burrinho, e um moço vestido de são José, descalço e com o seu cajado de guatambú, puxando o burrico pelas rédeas, irá bater nas portas das 4 ou 5 casas à volta da capela de São Sebastião (que é um lugarejo), e todas as portas estarão fechadas.
 Todo o povo acompanha muito compenetrado da passagem evangélica, a tudo assiste em grande silêncio e não é raro marejarem as lágrimas, pois revivem com todo o realismo a cena de Maria e José sem encontrar pousada. No regresso, no pequeno pórtico da capela, todo em arcadas como se fora um claustro, já está armado “ao vivo”o presépio com o boi amarrado junto à manjedoura, pastores e pastoras oferecendo os seus dons, inclusive carneirinhos vivos e os anjinhos a cantarem com as suas vozes inocentes e a pleno pulmões, o Glória. Não faltam os Magos, só que lá vêm a cavalo ( onde arranjar camelos?) acompanhados por uma autêntica tropa de burros, com a tilintante madrinha à frente do cortejo. O menino Jesus é sempre a criança que nasceu por último naquelas serras, mesmo que seja escurinho... O padre nunca pode ir nessa noite e os leigos celebram a Vigília (indicando que outrora algum monge teria vivido por ali), lêem o Evangelho, um deles faz a homilia (já preparada de antemão) e o ministro distribuiu a Eucaristia. Tudo encerrado com o tradicional Noite Feliz e confraternização em geral muito efusiva.
            Creio que era assim que se procedia na Idade Média, com os famosos autos nos pórticos das catedrais. É de notar, porém,  que Gonçalves está no sul de Minas, bem distante da Baviera e da Gasconha...