O Vestido de Natal
Poucos dias antes do Natal, entrei em clima de graças – Eu fazia tudo que mamãe mandava. Começou em uma tarde quando minha irmã Nena chegou dizendo que iria a uma ceia no dia 24 de dezembro na casa de uns parentes nossos. Isso me incomodou. Com meu corpinho franzino e meus cabelos curtos ainda molhados do banho no rio, peguei uma vassoura e abri a limpar, sem bom gosto, a sala da casa. Fiz tanta poeira no piso de tijolos que papai levantou da rede e me deu uns gritos: Não comecei bem.
Mais tarde, à noite, em uma tentativa evidente de me fazer sentir melhor, mamãe me disse que me daria um vestido de presente de Natal. Olhei para ela, incrédula, sem mais um pingo de ciúmes por apenas Nena ter sido convidada. Ela andava de bicicleta e tinha quinze anos e podia sair à noite. Bem, mas o Natal estava chegando.
No quarto que eu dividia com minha irmã, havia um espelho na penteadeira e, diante dele, imaginei-me num vestido novo. Meus olhos foram passando por meu corpo em calmos movimentos iluminados de alegria ante a promessa da roupa nova.
E quando terminava as tarefas do dia, muito sonhadora, ia brincar com as meninas da rua na calçada da casa de Seu Abdias.
Meu sorriso naquelas ocasiões formava mais o redondo de meu rosto. E muitas das meninas já sabiam de meu anunciado presente.
E finalmente chegou o dia 24 de dezembro e ao mesmo tempo meu pai saiu para o centro da cidade com o pedido das compras de mamãe. Mas, nesse dia, de uma forma que eu não entendia, meu pai gastou o dinheiro numa mesa de jogo, logo eu não ganharia meu vestido de Natal. Eu tive a sensação de que me tiravam um prato de comida bem gostosa.
E me ocorreu, enquanto olhava o trem passar na ponte de ferro de dentro do quintal, que eu podia ser uma vendedora de bolinhos fritos – mamãe os faria!
Assim, as estrelas e a lua chegaram e fui dormir. Uma adolescente de dez anos descobre nos sonhos, um mundo secreto (Um mundo que se quer ficar vivendo ali!). Mas ouvi a mãe conversando baixinho na sala...
_Mãe..., chamei quase dormindo.
_Durma, minha filha, que sua tia Francisca falou que amanhã lhe traz o vestido novo.
Fiquei um instante em silêncio, então, balbuciei um segundo pedido de benção e voltei novamente a dormir, já feliz de novo.
Durante dias dei meu melhor sorriso à minha tia e, descobri que pessoas amadas, mesmo que não vejamos sempre, estão por perto. E me perguntei como minha tia sabia de minhas cores favoritas – azul e branco. Se ela havia procurado aquele vestido com uma barra azul marinho só para me agradar, tinha conseguido. E porque eu acredito que as crianças são abençoadas por Deus, eu amei meu pai enquanto ele viveu com a força de meu coração de filha.