Aquela cena sempre rolou
“O Natal está chegando!” diz, convincentemente, um anúncio televisivo. Que natau é esse?? Pergunta Joãozinho ao pai, que se encontra ao lado, e não responde. O filho, curioso, pergunta mais uma vez, e acrescenta; ele irá visitá nóis papai? A mãe, preocupada com aquela situação embaraçosa, interfere, dizendo: Filhinho, vai brincá lá fora com seus amiguinho e deixe seu pai em paz. Aquela cena ecoou, não só naquele instante, mas por muitos e muitos anos. Embora o filho, insistentemente, tentasse mudá-la. Até hoje não obteve resposta. Talvez, porque o pai não tivera suficiente coragem para dizer, filho, nós somo pobre, o natal só chega pros rico. Por trás de um forjado silêncio e de um “vai brincar lá fora”, provavelmente, se escondia um pai e uma mãe, envergonhados por não poderem comprar, ao menos, um sapato novo para o filho, já que aquele se desgastara de tão velho. E, de nem tampouco poder preparar um digno jantar, a base de feijão, arroz e carne. Esta era a cena que, incansavelmente, rolava todos os anos, já que o deus esperado tinha outro nome e exigia um berço esplêndido para o seu nascimento. O estábulo não servia. Felizmente, o “deus do consumo” nesta casa nunca pôde habitar. Não por serem pobres, mas porque nela outro Deus teimava em nascer. Embora não enxergassem, o Natal sempre os visitou, ou melhor, ele sempre aconteceu. Sabe porquê? Porque naquelas noites uma cena sempre rolava: O pai, a mãe e o filho, juntos repartindo com amor a última migalha de pão da mesa farta do patrão.