O Primeiro Natal
Aquele foi o primeiro Natal e como recém-casada, não sabia nada sobre os costumes italianos. Assim foi que, perto de meia noite, meu maridinho e eu descemos a escada de poucos lances de degraus que nos levava ao pátio onde encontramos uma mesa farta e muita gente reunida, todos com roupa de festa e grandes sorrisos e apertados abraços, acompanhados de beijos estalados no rosto. Senti-me mais feliz do que já era com aquela recepção calorosa. A noite foi uma criança diante do entusiasmo dos italianos para comemorar o Natal. Até aí tudo bem.
Quando as estrelas sumiram no céu e a lua deixou de se refletir na Baía da Guanabara, voltamos para nossa quitinete e fomos dormir. O nosso tempo de namoro, noivado e casamento fora de apenas oito meses, assim, ainda não tínhamos coisa alguma, exceto a alegria de estarmos juntos.
No dia 31 de dezembro encontramos mais uma vez nossos novos amigos, a mesa farta no pátio e a beijação calorosa se repetiu. Estava começando a acostumar-me com tanta demonstração de simpatia.
Aconteceu com a chegada da meia-noite o primeiro susto, de muitos que viriam depois. Todos os italianos, inclusive meu maridinho haviam brindado e bebido vinho à farta e quando os primeiros fogos começaram a espoucar no céu do Rio de Janeiro, eles agarraram os pratos e os atiraram no chão, nas paredes, no muro, em qualquer lugar que fosse de cimento para serem arrebentados.
Assustada com tanta barulheira subi mais que depressa os degraus da pequena escada que me levava para a segurança da quitinete e fui debruçar-me na grande janela, pondo-me a salvo daquela gritaria e da barulheira de pratos quebrados. Os anos e a convivência ensinaram-me a receber com naturalidade a maneira efusiva e expontânea dos italianos.
MCC Pazzola