AO PAPAI NOEL DO SHOPPING, OBRIGADA!

"minha cartinha ao "Papai-Noel"

Primeira semana de Dezembro, exato dia sete, e os ânimos Natalinos já estão bem agitados aqui por São Paulo.

Tudo corre e tudo brilha...

Gosto desta época embora confesse que o stress da cidade nos coloca em xeque quanto aos nossos desejos mais íntimos de paz , aquele que deveria nortear o clima do momento...

Tempos modernos, de enfoques modernos.

Seria enfadonho comentar o lugar comum, o fato de que o Espírito Natalino há muito se perdeu no comércio da época e de que poucas são as pessoas que, de fato, param para comemorar o significado precioso do Natal.

Isto posto, devo dizer que o meu personagem de hoje é um Papai Noel de shopping, um senhorzinho que conheci, um abnegado trabalhador sazonal de vermelho e barba branquinha, de plácidos olhos azuis, já tão heroicamente senil, porém não menos disposto a defender as contas do seu dia a dia enquanto todos passeiam e vão às compras; um lutador que fica ali, a postos, para o desejo do povo desde os primeiros dias de Dezembro, muito antes de declarada a festa oficial, quando um outro seu colega bom velhinho mais sortudo chega de helicóptero sobrevoando os céus da cidade que não para nunca.

Aliás, ele já deve estar "pintando" por aí...

Se já era difícil ser Papai Noel de antigamente, nascido lá na Lapônia, a viver rodeado do gelo do pólo norte, a ler cartinhas o tempo todo e partir de renas pilotadas no braço para distribuir presentes para o mundo inteiro, o que dizer do pobre do Papai Noel de Shopping deste acalorado mundo tropical que se derrete nas suas roupas polares num verão seco , poluído e insuportável.

Afora a avalanche de poses para tantas fotos!

Brincadeira...primeiramente aquelas crianças que só de olharem o bom velhinho abrem suas bocarras, não havendo presente deste mundo que as façam parar de berrrar. Nessa hora seria bom que todos os Papais-Noéis fossem surdos, tenho certeza disso!

As mães que insistem nas tantas fotos para a posteridade não lhe dão sossego..."olha lá filhinho, vamos para uma foto de lembranças com o Papai Noel, sorriam!", ou " vamos entregar a chupeta -de vez!- para o papai- Noel?(eu mesma, certa vez, fiz essa sugestão, e deu certo!"); e o Papai Noel lá...já cabisbaixo no final do dia, "cansadérrimo", quase apático, e que gostaria mesmo era de esquecer aquele dia exaustivo num bom banho frio, ainda nos estica seu braço para entregar aquele último pirulito cariogênico e receber as tantas cartinhas de pedidos que não caberiam nas renas de todos os Papais -Noéis do mundo!

É...percebo um tempo de Papai Noel de saco cheio...literalmente.

Aliás, que renas que nada!

Papai Noel por aqui volta para casa de "busão", na maior confusão, ou na melhor da sorte volta de metrô, porque as renas modernas, motorizadas, ainda que "flex", requerem combustível a preço de ouro. Ademais , o tráfego aéreo já nem permitiria renas por aqui.

Mas não vão me perguntar por que estou escrevendo tudo isso?

É que conheci um tristonho Papai Noel de Shopping aqui do meu pedaço mas que vem todo dia lá do outro lado da cidade.

Dizem que para um verdadeiro Papai- Noel não há limite de tempo, de idade e nem de distância, claro, São Nicolau é um Espírito e, como todo espiritualista convicto, espíritos são para sempre, inclusive o do Natal.

Não sei, mas a minha presente crônica levanta a tal questão do cansado espírito do Papai Noel dos Shoppings.

Penso que o verdadeiro Espírito do Natal luta muito para permanecer entre nós, e embora o meu Papai Noel do Shopping estivesse meio tristonho, cansado e acalorado, saibam que, ainda assim, permeou o coração das crianças, a fantasia dos adultos e todos os anseios necessitados de fé e de esperança, sendo tanta a minha certeza que me motivou a lhe escrever esta cartinha.

Dedico minha crônica ao meu bom velhinho do shopping que me fez sentir que a alegria da época transcende toda a dificuldade da vida moderna e todas as carências da nossa condição humana.

Ao meu Papai Noel do shopping, um feliz e eterno Natal, exatamente no Espírito que deveria nortear toda a nossa humana existência.

Ao Espírito do seu olhar que me iluminou, eu agradeço:

Obrigada, Papai-Noel.