Meninos pelas ruas
Pela Avenida Dantas Barreto caminha o pequeno grupo. Parece não ter pressa. E é verdade, ele não tem pra onde ir. Seus membros entram no Camelódromo, vão espiando as mercadorias ali expostas. Os vendedores apregoando o que tem de melhor, os pedestres apressados em guerra contra o tempo. Enquanto isso, os pequenos vão espiando...
No meio do grupo há um código de conduta não assinado, mas vivido por cada um. O grupo é formado por três meninas e quatro meninos com idade que varia de dez a doze anos. Todos batalham por seu sustento, mas buscam o bem estar do grupo. Pedem esmola, fuçam o lixo, procuram no chão uma moeda ou algo que possa ser transformado em comida. Essa é a palavra da hora que não pode ser esquecida.
O banho é exigido e sempre procurado. Procuram as fontes do Parque Treze de Maio e as da Praça Maciel Pinheiro, as vezes vão para a Praça do Derby, mas lá a concorrência é maior. Todo cuidado é pouco. É na hora do banho que aproveitam para se refrescar e lavar as roupas. Com tão pouco sobre o corpo, trapos desbotados e nenhum calçado eles caminham pelas ruas.
Na hora do sono, todos vão para um ‘lugar seguro’ que fica debaixo do viaduto do Forte das Cinco Pontas, e quando o tempo está bom e quando não são descobertos na Praça Treze de Maio. Lugar agradável, cheio de árvores e muito pássaro canoro. Só tem algo que os incomoda: é que na Praça o movimento começa cedo. O pessoal da caminhada começa as quatro da matutina, e essa é a hora do sono bem bom. Duas ou três vezes ao mês eles vão até o Parque do Derby para molhar as mãos no tanque onde fica o peixe-boi.
Esse ano, todos decidiram passar o Natal no Derby. Sabem que ganharão presentes, alimentos e roupas limpas. Por uma noite, misturados à multidão, esquecerão que são meninos de rua. Afinal é Natal!