Solidão de Natal
 
     Sozinho, deitado no escuro, ele celebrou o Natal. Incrível como a aparente sensação de estar completamente isolado de qualquer ser vivo deu-lhe a condição de vivenciar a paz tantas vezes ansiada. Nem mesmo os festejos que aconteciam nas redondezas conseguiam levar a termo o silêncio daquela alma errante. Ah, isso mesmo! Ele era uma alma errante, viajando para dentro do mais profundo do seu ser, buscando a comunhão com o espírito natalino que jamais fora possível até então.
 
     Não era ruim essa sua solidão. Ele conseguia clarear sua mente para todos os conflitos que vivenciara em sua curta existência, encontrava respostas que buscara por uma aparente eternidade e se dispunha a conviver com elas, fazendo de si mesmo uma pessoa melhor. Sim, ele ansiava por isso, precisava tomar para si as rédeas de sua vida antes que fosse tarde demais e ele descobrisse que todas as suas decisões, até o presente momento, foram fruto do seu desejo emergente de agradar a todo mundo, mesmo que para isso parte de si mesmo fosse dilacerada com cada uma delas. 
 
     Esse estado de solitude lhe dava a verdadeira amplitude de suas necessidades, de seus anseios e suas expectativas para o futuro que se desenhava à sua frente. Agora, sim, ele pensava em si, de uma maneira até egoísta, mas necessária para que nunca mais fosse marionete do ambiente no qual se encontrava. Esse egoísmo tinha uma conotação benevolente, era em prol de sua sanidade física e mental. E ele estava gostando de tudo isso, pela primeira vez sentia-se pleno em si mesmo, sem precisar provar nada a ninguém.
 
     Deitado na cama, olhos fechados, escuridão... Nenhum som atingia seu âmago, nada interrompia sua viagem interior. Neste momento, ele sentiu-se em comunhão com o Cristo aniversariante. Sentiu que Ele lhe soprava vida pelas narinas. Era um ar fresco, renovado, com aroma de futuro e terra molhada. A terra que ele pisava, descalço, enquanto explorava seus pensamentos mais íntimos e fazia um balanço de sua vida. Caminhou ao lado de Cristo, conversando com Ele, aquele irmão Divino que sacrificou-se por nós para que tivéssemos honra e dignidade. A princípio, sentiu-se indigno de estar na presença Dele e só aos poucos foi compreendendo que era ali mesmo que deveria estar. Era seu momento de renovação interior, quando iria apossar-se de seu destino, finalmente.
 
     E foi ali, completamente só, que ele atingiu a plenitude de si mesmo, vivenciando o verdadeiro significado do Natal.

19/12/2009
Akasha De Lioncourt
Enviado por Akasha De Lioncourt em 19/12/2009
Reeditado em 21/12/2009
Código do texto: T1986643
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