O que servir no Natal?
*Publicada no Jornal Agora, Jan/08
e na Revista SAMIZDAT, Dez/09.
Ah, o Natal! Época de paz, amor, união... E lista de presentes, amigo-secreto do filho, do marido, da filha adolescente na escola, na aula de inglês, na academia... Minha nossa, tem amigo secreto até no orkut! Surge amigo que não acaba mais!
E o que comprar para quem mal se conhece, se já é difícil acertar na mosca com aqueles que se conhece bem? Sempre tem aquela pessoa que abre o seu presente — aquele que você levou horas procurando, precisou enfrentar a última semana de corre-corre nas lojas e teve que pagar o-que-foi-preciso-para-agradar-a-chata — e, em vez de dar pulos de alegria, faz aquela “cara de paisagem”. E então você diz:
— Se não gostou pode trocar, meu bem, eu te mando a notinha.
E ela responde:
— Capaz (se for gaúcha), não precisa, eu amei! — mas, dois dias depois, te liga cobrando a tal notinha.
Quer coisa mais “natalinamente” tradicional do que isso? Que tal a ceia de Natal? Ah, a ceia de Natal! Começa com o bom e velho cabo-de-guerra natalino — este ano nós passamos lá ou eles vêm para cá? — e isso costuma demorar... Mas, adivinha só: você venceu o cabo-de-guerra natalino, parabéns! Este ano, o natal será por sua conta e risco!
Quem costuma ocupar o assento do convidado, que se delicia com as iguarias e guloseimas tão fartas e harmonicamente distribuídas sobre a mesa, mal sabe o trabalho que dá preparar este banquete. Mais difícil ainda é decidir o que preparar para a ceia de natal — além é claro da boa e tradicional ave natalina. Sempre tem o fulaninho que não come vegetais, as crianças que tem pânico de uva-passa e a mais nova namorada do filho que você descobre — quando tudo já está preparado — ser vegetariana!
Solução: põe ela sentada entre as crianças e o fulaninho. E só ela fazer a triagem do prato deles e todo mundo fica satisfeito!
A cozinheira corre, se esmera, acaba se atrasando para se arrumar — momento em que o marido reclama e, para lhe dar razão, os convidados chegam — “malditos convidados”, pensa ela, mandando todo seu espírito natalino para o forno junto ao peru, que a esta hora já apitou e ninguém se deu conta.
Enfim está tudo pronto, ela olha orgulhosa para a mesa, per-fei-ta, e libera a horda bárbara ao ataque, liderada pelo seu próprio marido — louco de fome, pois o expulsaram da cozinha quatro vezes!
Quando chega à hora da sobremesa, ela sente até uma dorzinha no coração ao ver a velocidade com que sua torta-obra-de-arte é consumida — aquela que levou 12 horas para ficar pronta (como ela enfatiza a noite inteira), leva cerca de uns 12 segundos para ser atacada pelas formigas super-desenvolvidas vestidas de gente.
A ceia só não acaba mais rápido do que o décimo terceiro, que quando você pensa que veio, já foi, mas ao contrário dele, o gostinho que fica é a satisfação de ver a mesa cheia, não só de comida, mas de amigos e felicidade!
E então? Já decidiu o que servir em sua ceia de Natal? Vai mandar fazer? Que seja! Só não se esqueça de servir uma boa dose de bom humor, antes, depois e principalmente durante as refeições: você vai precisar!